O estilo found footage, que emula uma filmagem amadora, se tornou um recurso de sucesso no cinema de terror com filmes como A Bruxa de Blair e Atividade Paranormal, fazendo com que histórias de assombrações ganhem um verniz inesperado (e aterrorizador) de realidade. Só que, como todo estilo de filmagem usado em excesso, há limites -- e parece que esse teto do found footage já chegou. Agora, porém, A Médium mostra que o mocumentário ainda tem espaço.
Mocumentário, afinal, é o nome dado ao estilo de narrativa que trata ficção como documentário. Há todos os sinais e signos de um filme documental, com entrevistas e personagens olhando para a câmera, mas com uma história que não passa de invenção. É o caso das séries The Office e Modern Family ou, ainda, do filme The Dark Side of The Moon. A Médium, terror de Taiwan com direção de Banjong Pisanthanakun, traz os elementos do documentário para assustar.
Na trama, acompanhamos Nim (Sawanee Utoomma), uma médium que incorpora o espírito de uma entidade. Ela começa o filme explicando como foi a descoberta do dom da mediunidade, os desafios da incorporação e a relação com a família. No entanto, após uma tragédia no seio familiar, ela começa a desconfiar que a sobrinha Mink (Narilya Gulmongkolpech) está passando por uma incorporação -- mas não de uma entidade benigna e sim de um demônio.
Pisanthanakun, na primeira uma hora do filme, surpreende: há força nessa linguagem de mocumentário em uma trama típica de possessão, colocando alguns degraus em uma história que seria banal se filmada de maneira convencional ou como um simples found footage. O roteiro, esperto, também vai inserindo a tensão da história aos poucos, fazendo com que o público descubra detalhes da possessão junto com a personagem de Sawanee Utoomma.
Lá pela metade do filme, pouco depois de uma hora de duração, é difícil segurar o medo. É um filme tenso acima de tudo, mas que deixa o terror impregnado em diálogos e formas de filmagem. Só que Pisanthanakun não sabe como encerrar mantendo o mocumentário e parte para um found footage convencional lá no terceiro ato, fazendo com que A Médium termine em um tom amargo. Parece mais do mesmo, apesar de todas as inovações apresentadas até ali.
A Médium mostra que o terror ainda pode dar (muito!) medo, principalmente quando o diretor consegue trazer naturalidade em linguagens e estéticas que fogem do comum. Poderia ser mais original e ousado, principalmente no seu final, sem essa montanha de clichês americanos que surgem do nada. Mas, ainda assim, é um filme de terror surpreendente e, apesar do barulho ao redor de X, é um dos melhores trabalhos do gênero visto nos cinemas brasileiros em 2022.
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