Ao dar uma espiada no elenco de A Lavanderia, é difícil não conter o ânimo. É protagonizado por Meryl Streep, Gary Oldman e Antonio Banderas e dirigido por Steven Soderbergh (Onze Homens e um Segredo). No entanto, parece que o dedo podre da Netflix agiu nesta produção: mesmo com tantos nomes estrelados, o filme é entediante.
A trama mostra os bastidores de pessoas envolvidas direta ou indiretamente em casos de evasão fiscal -- ou seja, quando coloca o dinheiro em outro lugar para fugir de impostos e coisas do tipo. Uma delas é Ellen Martin (Streep), uma aposentada que perde o marido num acidente de barco e que é prejudicado por conta de empresas offshore.
Do outro lado, Ramón Fonseca (Banderas) e Jürgen Mossack (Oldman) são barões dessas empresas de fachada, sendo responsáveis por fazer evasão de divisas. E, de alguma forma, eles acabam se envolvendo indiretamente nas perdas sentimentais de Ellen. Ela passa a investigar ativamente essa história, que viria a ser o Panamá Papers.
Soderbergh, aqui, está menos Soderbergh e mais Adam McKay (de Vice e A Grande Aposta). Por se tratar de um tema espinhoso e complicado, o cineasta e o roteirista Scott Z. Burns (Terapia de Risco) trazem artimanhas cada vez mais batidas -- um bom-humor sutil, quebra de quarta parede, conversas francas com o público e explicações didáticas.
Isso funciona em certa parte e não é o grande problema de A Lavanderia. O ponto aqui é que não há foco. As coisas são dispersas e parecem acontecer sem muito controle. Histórias paralelas se desenvolvem sem muita justificativa -- como a trama episódica do homem que trai a mulher. O principal, a trama de Meryl Streep, fica totalmente de lado.
No final, quando Soderbergh tenta fazer uma reviravolta com a personagem e deixar tudo mais impactante, só há uma pergunta: como isso aconteceu? O cineasta, afinal, fica um longo tempo se dedicando à coisas menores e o principal, a tal trama do vazamento de dados e a jornada dessa mulher, são mal explicadas. Nada faz muito sentido depois.
Além disso, A Lavanderia tem apenas duas boas cenas. Uma primeira é no tal barco que vira e mata o marido de Ellen -- a forma como a câmera acompanha a tragédia é intensa e puro Soderbergh, dos seus bons tempos como diretor. A outra é a que conclui o longa, também com Streep, é poderosíssima. Pena, porém, que tenha pouca conexão de fato.
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