Curioso como é difícil compreender exatamente o que A Jangada de Welles quer contar. Dirigido pela dupla Petrus Cariry (Clarisse ou Alguma Coisa Sobre Nós Dois) e Firmino Holanda, mais conhecido por seu trabalho de edição ao lado do próprio Cariry, o longa-metragem inicialmente é um olhar sobre a vinda do cineasta Orson Welles ao Brasil, com a intenção de fazer um filme.
No entanto, conforme o tempo passa, o filme vai mostrando que tem outros assuntos para tratar. Há, no roteiro, também assinado por Petrus e Firmino, reflexões sobre a situação sociopolítica do País, as tensões globais daquele momento e, principalmente, as histórias envolvendo os jangadeiros do Ceará, que traduzem muito o cenário trabalhista do Brasil para a época e agora.
Com isso, A Jangada de Welles se torna uma verdadeira salada. Ainda que todos os temas conversem, com pontos de contato entre tudo que é comentado, são discussões que trazem diferentes pontos de reflexão. Isso acaba deixando tudo muito cansativo, até mesmo um tanto quanto artificial, por conta de um roteiro que força algumas transições temáticas.
É uma pena, já que cada uma das partes são interessantes -- é legal saber sobre os detalhes da vinda de Welles, as histórias de Jacaré e os jangadeiros e por aí vai. Mas, juntos, são muitos pontos que se confundem e se sobrepõem. Faltou ao roteiro e para a edição construir uma linha narrativa mais clara, fugindo de qualquer didatismo. Isso deixaria o filme mais interessante.
Ainda assim, mesmo sem querer, A Jangada de Welles acerta ao falar tão bem sobre os jangadeiros, esse tema tão destratado e esquecido. É o ponto alto do filme, nessa mistura de tantas histórias. Fica, enfim, a sensação de que a produção seria muito melhor, e mais interessante, se falasse só sobre isso. O resto, no final das contas, fica sobrando. Uma pena.
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