A sensação, sempre que um filme sobre judeus na Segunda Guerra Mundial chega aos cinemas, é de que a história vai ser mais do mesmo. Afinal, cineastas de todo o mundo já abordaram a temática de alguma forma e contribuíram para a construção de um imaginário ao redor do horror e das atrocidades cometidas por nazistas. Mas, de vez em quando, nos surpreendem.
É o caso de A Guerra de Anna, longa-metragem russo que estreou no Cinema Virtual -- plataforma que está se arriscando a lançar filmes digitalmente, por R$ 24,90. Curto, com pouco mais de uma hora, o filme consegue seduzir o espectador com uma trama simples, estilo O Pianista: uma garotinha judia que, pra sobreviver, se esconde em uma chaminé desativada.
A partir disso, o cineasta Aleksey Fedorchenko (de Almas Silenciosas) nos propicia uma trama intimista, e de temporalidade diferenciada, que nos coloca no cotidiano da pequena Anna. Vemos o mundo sob seu olhar, diretamente da chaminé ou de suas escapadas noturnas, e nos compadecemos de sua dor. Afinal, é uma menina de seis anos buscando sobreviver no caos.
Além da direção autoral e marcante de Fedorchenko, destaca-se a atuação poderosa da pequena Marta Kozlova. De olhos grandes e esbugalhados, que ficam ainda mais proeminentes na magreza cadavérica da garotinha, entendemos e torcemos por sua vida. Difícil não se emocionar ou não torcer para que ela alcance alguns dos objetivos e consiga se manter bem escondida.
Pena que alguns momentos sejam repetitivos e a limitação da visão da narrativa, ainda que encantadora e diferenciada, não traga o aprofundamento necessário. Afinal, é muito diferente ver a situação do que ler, por exemplo -- como é o caso de O Diário de Anne Frank, que nos faz mergulhar na vida daquela garotinha judia. Em alguns falta força. E isso diminui o longa.
Mas, de resto, A Guerra de Anna é um cinema diferenciado, quase autoral, que traz uma visão diferenciada sobre um tema que sempre parece esgotado. Fedorchenko é um daqueles cineastas russos para acompanhar. Afinal, assim como Andrey Zvyagintsev (do potente Loveless), mostrou que sabe colocar crianças indefesas no meio de dramas inimagináveis.
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