Não existem reviravoltas medianas. Ou mais ou menos boas. O ponto de virada em um filme ou é bom ou é ruim. Alguns se tornaram clássicos e entraram pro imaginário popular, como em Star Wars, O Sexto Sentido e Planeta dos Macacos. Alguns outros se perdem na tentativa de surpreender e criam bizarrices, como O Grande Truque e o trash Olhos Famintos. E, infelizmente, A Grande Mentira entra neste último grupo.
Dirigido por Bill Condon (Sr. Sherlock Holmes, A Bela e a Fera), o longa-metragem conta a história de Roy Courtnay (Ian McKellen), um trapaceiro idoso que aplica golpes financeiros pra se dar bem. E sua nova vítima é Betty McLeish (Helen Mirren), uma idosa que está em busca de um parceiro para sua solitária vida. E assim, o objetivo de Roy é se fazer de coitado para, aos poucos, entrar na vida da viúva e tomar todo seu dinheiro.
Obviamente, não há nada a se falar sobre as atuações de McKellen (O Senhor dos Anéis) e Mirren (Ella e John). Grandes atores, eles sabem criar o clima necessário para este thriller de Bill Condon sem recorrer a jargões ou obviedades -- ainda que, aqui e acolá, o octogenário Ian McKellen quase caia em uma atuação canastrona. Ambos estão bem, possuem química e, principalmente, entendem particularidades de seus personagens.
De certa forma, Condon também escapa de erros recentes em seus filmes e acaba por criar uma trama divertida de acompanhar. É interessante ver o caminho do vigarista interpretado por McKellen e como ele aplica seus golpes -- uma sensação que lembra o excelente filme argentino Nove Rainhas. Há um interesse de ver as situações passando na tela e a reação dos personagens. Há exageros, sim, mas acabam passando batidos.
O grande problema acaba se concentrando na reviravolta do roteiro de Jeffrey Hatcher (A Duquesa). Nela, há dois pequenos plot twists: o primeiro é óbvio, o segundo é bizarro, quase novelesco. Elementos que nunca haviam sido citados entram no meio da narrativa e promovem uma mudança brusca. Fica estranho. Isso é algo que deveria ter sido introduzido aos poucos, sem abalar muito a trama, pro espectador se acostumar.
Dessa maneira, A Grande Mentira perde muita força em seu ato final. Ainda que haja modernidade nas motivações reveladas, e uma importância social, teria sido melhor se o longa a tivesse baseado em decisões mais inteligentes. Da maneira que ficou, parece que Nicholas Searle -- o autor do livro que inspirou este filme -- precisava arranjar uma reviravolta e criou isso, sem pé nem cabeça. É plot twist desconectado com a realidade.
Uma pena, já que o longa-metragem possui duas atuações de primeira e um Bill Condon inspirado -- algo raro de se ver, infelizmente. Um pouco mais de trabalho na reviravolta e teríamos um dos grandes filmes do ano. Do jeito que está, é só divertido. E olhe lá.
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