Claudette 'CJ' Walker (Eden Duncan-Smith) e Sebastian J. Thomas (Dante Crichlow) são dois adolescentes prodígios, no coração do Brooklyn, que dedicam grande parte da adolescência construindo uma máquina de viagem no tempo. Um primeiro teste dá certo e aí é só alegria. No entanto, a possibilidade de viajar entre temporalidades acaba se tornando ainda mais importante quando Calvin (Astro), irmão de CJ, morre nas mãos de um policial. A dupla de amigos vê aí, então, uma possibilidade de usar a poderosa invenção como forma de corrigir erros do passado e fazer com que tudo fique melhor.
Esta é a trama de A Gente se Vê Ontem, filme de viagem temporal original da Netflix, dirigido pelo estreante Stefon Bristol e produzido por Spike Lee (Infiltrado na Klan). Não dá pra dizer, logo de cara, que o filme é extremamente original ou coisa do tipo. Viagens no tempo se tornaram lugar-comum no cinema contemporâneo e já atinge todos os tipos de gêneros -- indo desde a comédia romântica (Uma Questão de Tempo), passando por filmes juvenis (Projeto Almanaque) e indo até grandes blockbusters (Vingadores: Ultimato). Porém, este novo filme da Netflix possui alguns elementos que o destacam.
Primeiro: dá pra ver a influência de Lee na produção e na trama, remetendo aos bairros negros e periféricos dos Estados Unidos para mostrar o cotidiano, as relações, as pessoas e a violência policial -- há até um quê de O Ódio que Você Semeia na trama que é contada. Isso acaba dando um diferencial para a produção que chama a atenção. Afinal, mais do que uma simples viagem no tempo, A Gente se Vê Ontem acaba passeando por questões sociais importantíssimas. A fantasia fica como um tempero.
Além disso, é interessante quando o filme passa a ter a situação envolvendo Calvin. A viagem no tempo passa de uma diversão para algo mais sério, mais intenso. Diferente, por exemplo, de algo parecido com De Volta para o Futuro -- que, inclusive, conta com a participação mais do que especial de Michael J. Fox, o Marty McFly. Há algo ali que emociona, que intensifica o que está sendo assistido, e ajuda a criar vínculos reais com o espectador. O senso de urgência está ali, assim como a emoção do que se passa.
No entanto, claro, nem tudo são flores no novo filme da Netflix. Enquanto a protagonista Eden Duncan-Smith (Annie) segura bem as pontas de uma garota decidida, o colega Dante Crichlow é bem mais instável -- talvez por ser o primeiro longa do rapaz. Ele não consegue segurar o drama por muito tempo e falha em momentos cruciais do longa-metragem, diminuindo assim a empolgação e a emoção. Além disso, ambos não conseguem convencer que são prodígios da ciência. Podiam ter desenvolvido mais isso.
Por fim, mesmo tendo menos de 90 minutos, A Gente se Vê Ontem acaba se tornando arrastado em determinado momento e acaba aumentando demais a quantidade de acontecimentos no passado. Por mais que o roteiro de Fredrica Bailey e do próprio Bristol seja inventivo ao fazer viagens curtas e, assim, diminuindo a quantidade das possíveis mudanças no presente, há furos de roteiro que atrapalham a imersão geral.
Mas, ainda assim, pode-se dizer que o longa é gostoso de assistir, traz algumas questões interessantes, e é estilizado na medida certa. Funciona, no geral. E agrada.
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