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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'A Casa', da Netflix, é suspense interessante, mas sem vitalidade


Publicitário conceituado, Javier Muñoz (Javier Gutiérrez) não consegue se recolocar no mercado de trabalho após ser demitido. As coisas, então, começam a ir de mal a pior: o casamento fica fragilizado, a relação com o filho se deteriora e precisa, por fim, sair da casa que vivem para um aluguel mais barato. E é aí que começa o surto total e a psicose delirante do protagonista.


Obcecado pela família que alugou seu antigo imóvel, Javier começa a perseguir o jovem Tomás (Mario Casas) e a trabalhar como um parasita -- num sentido bem estreito com o longa de Bong Joon-Ho nos trouxe em 2019. Ele passa a criar histórias, a inventar mentiras, a enganar Tomás e sua esposa. Quer tomar seu lugar, sua casa, sua esposa, sua filha, sua vida. Um parasita, de fato.


Esta é a trama do suspense espanhol A Casa, estreia do streaming desta quarta-feira, 25. Vindo no encalço do sucesso absoluto O Poço, o filme conta com uma premissa interessante e que desperta a atenção do público. Afinal, filmes que mostram degradação psicológica geralmente são profundos e fornecem um bom mergulho na psiquê -- veja A Vida em Espera, por exemplo.

E no início, essa premissa é construída de maneira inteligente. Diretores e roteiristas, os irmãos Àlex e David Pastor (do mediano Os Últimos Dias) mostram bem a destruição interna e psicológica de Javier, exemplificando as emoções do personagem em sentimentos, gestos, ações. Não há didática exagerada e os diretores não pretendem jogar nada na cara do público.


Javier Gutiérrez (excelente em O Autor) encarna bem o papel e convence. Ele embarca na ideia dos diretores e amplifica a sensação de que sua sanidade mental está aos cacos. Boa atuação.


No entanto, faltando exatamente 25 minutos para a conclusão do longa, as coisas começam a fugir totalmente da boa linha narrativa que vinha sendo construída. O roteiro insere uma trama sem motivo algum envolvendo um pedófilo, que termina sem impacto algum; coloca algumas facilitações narrativas bregas; e, pior, não explica bem algumas soluções bem complexas.


Dessa forma, A Casa termina menor do que no seu início. O exagero dos diretores/roteiristas, e a insistência em algumas situações, fazem com que o longa-metragem perca o fio da meada e acabe batendo de frente com a desconstrução da personalidade de Javier. Uma pena. Teria sido exame muito mais interessante de personagem se houvesse pulso firme no controle do longa.

 
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