O ano de 1968 foi um marco na história da França. Da Europa. Quiçá, do mundo. Afinal, foram nas praças e ruas de Paris que movimentos trabalhistas e estudantis se reuniram em busca de mais igualdade. Assim como a Revolução Francesa trouxe um novo caminho para o comportamento do mundo, o movimento de Maio de 1968 também trilhou rumos no mundo.
No entanto, isso não nasceu de uma hora para a outra. A vontade de exigir mudanças tampouco foi algo "criado", produzido. Foram sentimentos naturais, de uma sociedade que avança. E é justamente esse o ponto alto de A Boa Esposa, novo longa-metragem do diretor e corroteirista Martin Provost (do bom Violette). Não é um filme sobre Maio de 1968, mas o que lhe antecedeu.
Afinal, A Boa Esposa acompanha a história de uma escola francesa, no interior do País, que treina garotas para serem esposas cordiais, respeitosas. Para serem, como diziam antigamente, prendadas. No comando da instituição está a rigorosa Paulette (Juliette Binoche), a simpática Gilberte (Yolande Moreau) e, ainda, a explosiva e divertida freira Marie-Thérèse (Noémie Lvovsky).
A partir da química dessas três, além da presença das cerca de 20 alunas, acompanhamos as mudanças sutis no comportamento. Começa com as alunas, que já começam a explorar mais suas sexualidades e a romper a prisão que viviam até então. Depois, começa a caminhar para as mulheres mais velhas, que veem possibilidade de usar uma calça, por exemplo, ao invés de saia.
É interessantíssima a visão de Provost, que divide roteiro com a estreante Séverine Werba, sobre essas pequenas coisas que vão surgindo no cotidiano até explodir em uma revolta. Mostra que esses movimentos, geralmente definidores de gerações, não nascem da noite para o dia, como muitos livros didáticos por aí sugerem. Vemos o soprar da brisa que vai mudar o rumo.
Isso, aliado com a boa interpretação de Binoche, Moreau e Lvovsky, dá o tom da trama. No entanto, logo surgem os problemas. Primeiramente, falta sensibilidade (feminina, talvez?) para o cineasta conduzir a história das jovens alunas. Suas histórias são frequentemente deixadas de lado, como a sexualidade de duas delas, o futuro de uma outra e, enfim, a tristeza de uma última.
São propostas de histórias fortes, que necessitam de atenção e desenvolvimento. No entanto, Provost acaba valorizando mais o humor das situações, como é típico nas comédias francesas. Faltou, assim, um rumo mais definido. Se fosse optar pelo tom mais lúdico da coisa, como acontece na última (e estranhíssima) cena, teria sido melhor amenizar algumas das tramas.
Do jeito que ficou, A Boa Esposa tem um tom torto, estranho. Trata de algo importante e interessante, com uma visão que não vimos antes. Mas isso não anula os erros de roteiro, que colocam o longa-metragem fora do prumo. Faltou uma direção mais firme e decidida com o que queria em A Boa Esposa. Uma mulher, falando sobre mulheres, teria resultados melhores.
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