Que belezinha é 45 do Segundo Tempo, longa-metragem que chegou aos cinemas nesta quinta-feira, 18. Dirigido por Luiz Villaça (do excepcional De Onde Eu Te Vejo), o filme mergulha na história de Pedro (Tony Ramos), o dono de uma cantina no Bixiga que está cansado da vida. Já não tem pessoas ao seu redor, não vê felicidade em nada. Está apático. Quando reencontra dois amigos do colegial (Ary França e Cássio Gabus Mendes), vê que não tem mais nada a fazer.
Afinal, nas aparências de um rápido encontro, os dois parecem bem. Um deles, vivido por França, é padre. O outro, por Cássio Gabus Mendes, é um advogado de sucesso, casado. Por que as coisas vão tão mal para Pedro, que não tem dinheiro nem pra carne da bracciola? É aí que ele decide tomar uma decisão extrema. Vai apenas esperar o Palmeiras vencer o Campeonato Brasileiro e vai acabar com sua própria vida. Para ele, não há nada mais que o prenda à vida.
A partir daí, Villaça traz uma mistura de temas que, em uma direção menos delicada, poderia soar bagunçado, caótico, chato, cansativo. Mas, nas mãos do cineasta, se torna potente: 45 do Segundo Tempo fala sobre amizade, memória, futebol, solidão, vida. Tudo isso, mesmo que nem sempre de maneira óbvia ou realmente natural, vai criando um encadeamento reflexivo sobre o que é a vida, ainda mais de pessoas maduras que podem sentir que não há mais o que fazer.
Essa beleza dramática é capitaneada principalmente por Tony Ramos (fora dos cinemas desde Quase Memória, em 2016). O ator leva uma naturalidade desconcertante ao personagem de Pedro. Entre palavrões e frases explosivas, Ramos mostra o porquê de ser um dos grandes da dramaturgia brasileira -- a transição entre a empolgação, a aventura e a depressão de seu personagem é uma aula de cinema. França e Gabus, também eficiente, ajudam nesse clima.
E com isso tudo, boa ideia e excelentes atuações, Villaça mais uma vez mostra como é um dos grandes de sua geração. Um cronista do audiovisual, que usa o espaço e personagens marcantes para falar sobre sentimentos reais. 45 do Segundo Tempo, dessa forma, vale o ingresso nos cinemas. Se no sofá de casa não segurei o choro com a cena final, lindíssima e muito sensível, imagino no cinema, com um mergulho completo na trama. Viva o cinema.
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