Lá se vai uma década desde o sucesso incompreensível e avassalador de Cinquenta Tons de Cinza. A franquia de livros, que também ganhou as telas, arrebatou uma legião de fãs, se tornou um marco de histórias eróticas e faturou milhões por aí. Por isso, pode-se dizer que é estranha a ausência de outros filmes com a mesma pegada chegando aos montes por aí nos cinemas.
Agora, porém, a Netflix conseguiu trazer uma das produções mais toscas e baixas, inspiradas claramente nos livros e filmes de James Grey, ao seu catálogo. É 365 Dias, longa-metragem polonês dirigido por Barbara Bialowas e Tomasz Mandes e que, arrisco dizer, é a pior coisa que já assisti no catálogo brasileiro da Netflix. É mal feito, é absurdo, é perigoso e inconsequente.
Sobre o que fala '365 Dias'?
Mas vamos por partes. Sobre o enredo: 365 Dias conta a história de Massimo Toricelli (Michele Morrone), um mafioso siciliano que se apaixona perdidamente por Laura (Anna Maria Sieklucka). Mas, como é de praxe nesse tipo de história, o romance não é nada convencional. Ele é um criminoso. Ela, sua sequestrada. E, dessa forma, ele quer obrigá-la a amá-lo numa só entrega.
É o mesmo tipo de história absurda, com tons fortes de abuso, promovida por 50 Tons de Cinza -- o desejo da mulher muitas vezes é reprimido em favor de taras masculinas, numa relação geralmente desproporcional e que se vale de abuso de poder. Aqui, obviamente, esse problema vai ainda mais além com a questão do crime e da obrigatoriedade imposta à moça em questão.
O único grande diferencial entre uma história e outra está no ar menos pudico desta produção polonesa. Parece um encontro de 50 Tons de Cinza e Tinto Brass -- cineasta italiano conhecido por seus filmes semi-pornográficos com histórias e sexo simulado. Com certeza deve deixar muitas pessoas animadas. Mas, convenhamos, há coisa muito melhor por aí. E de graça.
Fora isso, tudo do mesmo. Os dois são clichês de belezas ambulante. Ele é o padrão masculino moderno: barbudo, mas nem tanto; forte, mas nem tanto; peludo, mas nem tanto. Ela, enquanto isso, tem traços finos e "esconde uma beleza estonteante" -- como disse uma sinopse que li por aí. São fartos os closes em seus seios, quadril e nádegas. Enquanto ele é mais "escondido".
Por que é tão ruim?
E agora você me pergunta: o que faz dessa história, que fez tanto sucesso anteriormente, ser tão ruim? Bom, vamos por pontos. Primeiramente, a maioria dos atores é terrível. O tal Michele Morrone compete fortemente com Jamie Dornan para ver quem é pior, quem é mais artificial. Nem mesmo as cenas de sexo, o ponto alto de produções assim, conseguem passar verdade.
Sieklucka, enquanto isso, está alguns degraus acima de seu companheiro de tela -- e é até mesmo melhor do que Dakota Johnson, sua irmã gêmea espiritual em 50 Tons. No entanto, obviamente, ela não é recompensada. Afinal, o roteiro da própria Bialowas e Mandes é vergonhoso. É didático, é artificial, é mal escrito. Parece um projeto independente pornô.
Além disso, a dupla não sabe como comandar o filme. O clima todo é estranho, com uma trilha sonora desencaixada. Sem falar que as cenas de sexo variam entre o extremamente artificial (muito por culpa de Michele, vale dizer) e o exagerado. Em nenhum momento há uma centralidade, um cuidado no que está sendo produzido. Tudo é muito errático, muito estranho.
Conclusão Final
No final das contas, 365 Dias é isso. Um filme que fica a meio caminho entre 50 Tons e Tinto Brass, passeando por uma estética e atuações de novela das 7. Pode ser que agrade aqueles fãs da franquia de E.L. James que estavam ávidos por novos romances eróticos nos cinemas. Afinal, este público pode encontrar algum reconforto na similaridade das histórias e dos tipos.
Mas quem acha que vai encontrar um filme erótico bom, bem feito, com boas cenas "quentes" e bem atuado vai se decepcionar. Quase nada disso acontece por aqui. Nada de excitação. Há apenas vergonha, um punhado de desespero e muitos absurdos que são cometidos em menos de duas horas. Quer ver algo bom na Netflix? Então já digo: saio correndo pra longe de 365 Dias.
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