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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: ‘Shimmer Lake’, da Netflix, tem ideia original, mas péssima execução

Atualizado: 11 de jan. de 2022


A ideia de inverter a lógica temporal não é nova no cinema. Isso já foi feito em Amnésia, de maneira magistral por Christopher Nolan, e mais recentemente no francês Faces de uma Mulher, que recebeu uma crítica positiva aqui no Esquina. Agora, é a vez da Netflix apostar neste ousado formato de narrativa com o suspense policial Shimmer Lake, produção original do serviço de streaming e que conta com a direção do estreante Oren Uziel e o galã Benjamin Walker no elenco.

A história é simples: três moradores de uma pacata cidade assaltam um banco local, de propriedade de um poderoso juiz. Assim, a trama se desenvolve inteiramente em cima dos desdobramentos envolvendo tal assalto. O xerife (Walker) tenta capturar os bandidos, o que inclui o seu irmão Andy (Rainn Wilson, de The Office). É, basicamente, uma trama de gato e rato com alguns elementos desconhecidos ao público -- e que são revelados de acordo com o tempo que a história retrocede.

Ou seja: em essência, não é um tema novo. Clássicos como Bonnie e Clyde e Um Dia de Cão consolidaram os filmes de roubos a bancos, enquanto longas recentes mudaram a ótica do tema, trazendo elementos de drama (A Qualquer Custo, de 2016) e aventura (Truque de Mestre). Assim, para se mostrar interessante e necessário, Shimmer Lake precisa encontrar a sua originalidade. No caso da Netflix, então, a aposta foi a inversão narrativa e o acréscimo de elementos de humor.

O resultado, porém, fica abaixo do que o filme poderia ser. O diretor Uziel, que escreveu o roteiro de Anjos da Lei 2, mas nunca dirigiu um filme antes, tinha um bom material em mãos. A pouca experiência, porém, impediu que o filme se desenvolvesse de maneira positiva. Mesmo a mudança narrativa acaba não trazendo elementos à trama, apenas a deixa um pouco mais saborosa, ainda que confusa. O plot twist final nada tem de surpreendente, e pode ser sacado na metade de seus 83 minutos.

Além disso, a tentativa de fazer graça não surte efeito -- assim como todas outras comédias da Netflix, como War Machine e Zerando a Vida. Quando colocada no meio da trama, piadas perdem graça ou passam despercebidas. Outras, enquanto isso, são de mau gosto, como no momento em que acontece embate entre duas personagens e um rapaz, com dor de barriga, tenta não fazer barulho no banheiro. Pelo ritmo da edição, claramente era para fazer graça. Mas não causa nem um esboço de riso.

E, dentre os atores, apenas Rainn Wilson, que já tinha se destacado em The Office, tem a capacidade de desenvolver sua personagem -- ainda que o roteiro, também de Uziel, falhe ao tentar amplificar a carga dramática da trama. Benjamin Walker (de A Escolha) apenas faz seu papel de maneira correta, assim como o restante do elenco de apoio, sem grandes nomes ou destaques. São vários atores apenas cumprindo o papel que receberam e sem nenhum outro tipo de material interessante.

Por fim, fica claro que o diretor tinha uma boa premissa em mãos, inovando em cima de uma trama já batida do cinema. Ainda assim, porém, a inexperiência de Uziel acabou tornando o filme previsível e maçante, sem grandes surpresas ou momentos de destaque da trama. E assim, mais uma vez, a Netflix falha ao apresentar mais um filme original sem grande ousadia ou trama interessante. Agora, é esperar Okja para ver se a plataforma de streaming consegue produzir, finalmente, um filme à altura de suas séries.


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