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Crítica: 'Nas Terras Perdidas' ajuda a redescobrir Paul W. S. Anderson

  • Foto do escritor: Matheus Mans
    Matheus Mans
  • há 4 dias
  • 3 min de leitura


O diretor Paul W. S. Anderson é frequentemente mal interpretado pela crítica cinematográfica. Rotulado como um cineasta de obras sem substância devido à irregularidade da série Resident Evil, Anderson carrega injustamente a reputação de ser um dos nomes menos prestigiados de Hollywood. Contudo, essa visão merece ser contestada.


Embora tenha produções menos inspiradas em seu currículo (com Monster Hunter provavelmente representando seu ponto mais baixo), o cineasta britânico também ofereceu trabalhos dignos de reconhecimento, como o subestimado Pompeia e o ambicioso Corrida Mortal. Seu mais recente lançamento, Nas Terras Perdidas (In the Lost Lands), comprova que Anderson realmente tem uma voz autoral significativa.


Uma Jornada nas Terras Perdidas


Adaptado de um conto de George R. R. Martin (criador de Game of Thrones), o filme nos apresenta uma bruxa interpretada por Milla Jovovich que, após escapar da execução, precisa fugir da perseguição de forças policiais de um reino opressivo em um futuro distópico. Em sua jornada, ela conta com a ajuda de um mercenário (Dave Bautista) enquanto exploram as misteriosas Terras Perdidas em busca de um lobisomem.


À primeira vista, Nas Terras Perdidas pode parecer apenas mais um filme genérico sobre monstros em cenários pós-apocalípticos. No entanto, a obra funciona como um espaço de experimentação e manifesto artístico de Anderson. O diretor promove uma desconstrução tanto de símbolos sociais (como Igreja e Estado) quanto da própria linguagem cinematográfica tradicional.


Entre Mundos Visuais


O uso exagerado de efeitos visuais e cenários digitais é intencional. Por vezes, torna-se difícil distinguir elementos reais na tela – até mesmo os atores ocasionalmente parecem quase virtuais. A estética remete a quadrinhos, com claras inspirações de obras como Sin City de Robert Rodriguez, mas são as influências dos videogames que realmente se destacam.


O longa apresenta inegáveis semelhanças com um jogo ambientado no universo de Mad Max. Anderson incorpora referências diversas para construir seu mundo distópico peculiar e inquietante. Da mesma forma que a narrativa subverte instituições estabelecidas, o diretor parece tentar provocar uma sensação de desorientação no espectador – o que inevitavelmente gera reações divididas entre o público.


Um Exercício Cinematográfico Desafiador


Nas Terras Perdidas opera como um exercício visual, narrativo e estilístico que intencionalmente causa desconforto, repulsa e incompreensão. Representa o ápice da carreira de Anderson, estabelecendo uma ironia entre sua narrativa distópica e a reinterpretação visual do cinema tradicional. É um filme que desafia convenções e divide opiniões, mas aqueles que ultrapassam essa barreira inicial podem encontrar uma obra fascinante.


Não por acaso, alguns críticos atribuíram nota máxima ao filme em plataformas como o Letterboxd – uma avaliação compreensível quando se percebe a proposta do diretor.


Entretenimento e Substância


Apesar de toda sua experimentação estética, Nas Terras Perdidas ainda consegue entregar uma experiência de entretenimento satisfatória. O filme ocasionalmente perde o equilíbrio, mas em geral apresenta uma aventura bem construída.

A obra incorpora elementos populares do cinema contemporâneo de aventura, ação e ficção científica: reviravoltas narrativas, criaturas sobrenaturais, cenários apocalípticos e intrigas reais. Parece que Anderson deliberadamente reuniu elementos que fazem sucesso no cinema atual, questionando por que esses mesmos componentes são considerados "trash" quando sob sua direção.


No final, Nas Terras Perdidas representa a culminação do trabalho de toda a carreira de Paul W. S. Anderson: provocativo, estranho, disruptivo, curioso e divertido. Talvez seja hora de abandonarmos preconceitos e reconhecermos que, afinal, este cineasta tem algo relevante a nos comunicar.

 

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