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Foto do escritorMatheus Mans

Conheça Hélio Ziskind, compositor do 'Castelo' e da música do gás

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Quando entrou na equipe musical do programa Castelo Rá-Tim-Bum, da TV Cultura, Hélio Ziskind não sabia o que viria pela frente. Compositor de vinhetas, peças publicitárias e um dos integrantes do grupo Rumo, o paulista arriscou ir para a Cultura e tentar a sorte com o público infantil. “Não sabia nada deste universo”, conta o compositor e cantor em entrevista ao Esquina. “Foi uma aposta que fiz.”

A aposta de Ziskind, porém, não podia ter sido mais certeira: com forte sensibilidade para o gosto musical das crianças, o paulista já atravessa gerações com suas músicas: Cocoricó, Ratinho tomando banho e as músicas do passarinho são cantadas por crianças, adolescente e até por adultos. Poucos passaram imunes ao talento e ao virtuosismo de Ziskind. Afinal, ele é um daqueles que entendem o coração da gente.

Movido pela nostalgia e pelo desejo de entender melhor a mente por trás da infância de tantas pessoas, o Esquina foi conversar com Hélio. Na pauta, o Castelo, a festa no paiol e, é claro, a música do gás, que o paulista compôs há 30 anos para anunciar a chegada dos botijões na rua e, recentemente, renasceu com batidas de funk. E Hélio, depois de povoar o imaginário infantil, virou hit do carnaval. A seguir, os melhores trechos da entrevista:

Esquina: Como foi participar de um projeto como o ‘Castelo Rá-Tim-Bum’?

Hélio Ziskind: O Castelo era um projeto muito bem estruturado pela TV Cultura. Todos temas do programa foram estudados profundamente e isso, junto com um modo de trabalhar muito próximo à equipe, dinamizou o processo de criação de todos envolvidos. Eu vivi uma aventura criativa na época do programa. Não era, simplesmente, uma música encomendada para um programa de televisão. Era uma resposta ao que está ao nosso redor, e ao redor das crianças, que não era didática. Era divertida. E este era o grande atrativo do conteúdo feito pelo Castelo: a gente criava divertimento ao redor de um assunto e isso, depois, formava um forte vínculo afetivo com a criança.

Este é o segredo das suas músicas infantis? Ser mais divertido do que didático?

Não acho que exista um segredo, nem uma fórmula. O resultado do sucesso é, simplesmente, o vínculo que as crianças criam com as músicas. Eu exploro o potencial dos objetos e entendo o que precisa ser dito. Quando vou fazer uma música sobre tomar banho, não posso dar uma ordem para as crianças tomarem banho. Tenho que falar outras coisas sobre aquele momento que atraia crianças. Se eu faço uma música sobre óculos, falo sobre tudo que envolve aquele objeto: a lente, as hastes.

E com isso, suas músicas fazem parte de várias gerações.

Este é o lado bom de fazer música para crianças. A criança vira pai, tio, avô e o público vai se renovando, ganhando ainda mais força. Outro dia, fui no interior do Ceará e as todas crianças cantavam minhas músicas, sabiam tudo sobre Castelo, Cocoricó. É um sentimento incrível, é emocionante para um músico.

Você fez trabalhos para o ‘Castelo Rá-Tim-Bum’, para o ‘Cocoricó’, para o ‘Glub Glub’. Qual deles mais te atraiu?

Gosto muito do trabalho que fiz para o Cocoricó. Falei de tudo lá, por meio da música: inveja, morango, hip hop. O Cocoricó era um poço de observação sobre o mundo ao redor. E o melhor é que os trabalhos que eu fazia foram crescendo com o tempo. Quando comecei com Castelo, as músicas duravam 1 minuto. No Cocoricó, elas duravam 3 minutos. Algumas chegaram a 6 minutos, como a música sobre o cocô e sobre hip hop. O Castelo foi meu trabalho inaugural e me deu uma identidade profissional. O Cocoricó me trouxe mais espaço, e me senti realizado com o que fiz lá.

Não existem mais trabalhos como o ‘Castelo’ e o ‘Cocoricó’.

O universo infantil se renova. Mas o Castelo e as outras produções da Cultura naquela época foram um ponto fora da curva em todo o mundo. A TV Cultura estava em um ótimo momento e conseguiu entender o que as pessoas precisavam. Era uma proximidade natural com o espírito paulistano, cosmopolita daquele momento. Acredito que se a Cultura retomasse esse tipo de raciocínio, daria certo. O público está esperando por algo novo e com qualidade para oferecer às crianças.

Você compôs a “música do gás”, que toca em caminhões da Ultragaz. Recentemente, essa mesma música acabou se transformando no “funk do gás”. Como você viu isso?

Foi um acontecimento tão espontâneo na internet. Pelo que eu soube, um garoto pegou essa minha música do gás, achando que era de domínio publico e fez um arranjo ousado, com uma batida de funk embaixo. E ainda depois acrescentou o “Ó o gás”, como se fosse um momento de energia. Aí acabou viralizando. É incrível ver o poder que a internet tem. Eu mesmo já dei entrevistas sobre isso, pois a música voltou a apontar para mim 30 anos depois da gravação. É surpreendente.

Mas você gostou da música?

É boa se a gente se distanciar da realização e ver o conceito por trás dela. Claro, a realização é precária, cheia de falhas de produção musical. Não está certo falar que aquilo ficou bom. É problemática. Mas o conceito é original, ousado. Não posso falar que não me diverti.

E agora, quais seus planos?

Trabalho em algumas coisas. Faço trilhas para apresentação de dança, teatro. Também tenho um trabalho para museus, onde eu faço audioguias com trilha sonora, texto, narração. É um trabalho interessante, onde consigo me aprofundar no conteúdo. Além disso, depois que a TV Cultura desistiu se afastar da produção infantil, comecei a trilhar meu caminho: estou fazendo desenhos animados inspirados em minhas músicas. Logo, deveremos ter os resultados para o público ver e relembrar essas canções.

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