Há poucos anos, o mercado brasileiro começou a experimentar algo que já era sensação na Europa e nos Estados Unidos há muito mais tempo: as mystery boxes. São caixas, como o próprio nome em inglês já diz, que enviam itens mensais para seus assinantes de determinado assunto e temática -- e tudo é surpresa, sem revelar nada antes. Por aqui, logo pipocaram clubes de leitura, como a TAG; e outros com foco em nichos, como os clubes de cerveja, nerds e até de colecionáveis. É só agora, anos depois do mercado já ter decolado, que surge a Rosebud, a primeira caixa por assinatura para cinéfilos.
Ideia de três estudantes de cinema, a caixa por assinatura, que já começa cinéfila no nome, promete enviar itens surpresa aos seus assinantes usando a incansável temática dos bons filmes. São DVDs, pôsteres, canecas e outros objetos que integram o escopo do material e que variam a cada mês e a cada temática -- dois filmes, um pôster, uma guloseima e uma revista informativa são a base, enquanto outros mimos vão variando. "Decidimos desenvolver um clube de cinema com o objetivo de criar uma nova experiência cinematográfica", explica Gleisson Dias, um dos responsáveis pelo clube.
Atualmente, a Rosebud se prepara para enviar a primeira caixa oficial -- a "número zero", que serviu como uma espécie de teste para a empresa, levou o filme Cidadão Kane aos seus primeiros assinantes e logo terá unboxing no canal oficial do Esquina da Cultura no YouTube. Abaixo, confira a conversa completa do Esquina com Dias, que fala sobre os desafios do mercado, o objetivo da Rosebud e o que esperar daqui pra frente:
Esquina da Cultura: De onde surgiu a ideia da Rosebud? Como foram os preparativos?
Gleisson Dias: A Rosebud surgiu a partir da vontade de três estudantes de cinema de promover o conhecimento sobre a sétima arte. Nós tínhamos essa vontade, mas não sabíamos por onde começar. Foi quando percebemos o crescimento no número de clubes de assinatura e não encontramos nenhum voltado para a área. Então decidimos desenvolver um clube de cinema com o objetivo de criar uma nova experiência cinematográfica, apresentar novas cinematografias e novos olhares sobre o cinema, propagar a cultura, reavivar o valor sentimental entre o cinéfilo e a mídia física e unir os amantes de cinema de todo o Brasil em uma comunidade onde eles poderão trocar suas experiências cinematográficas.
Nossa jornada começou em janeiro de 2018, quando fomos incubados no Instituto Gênesis, incubadora vinculada a PUC-Rio. Desde então, nos preparamos durante onze meses para começarmos da melhor maneira possível. Nesse período, nós entramos em contato e fechamos parcerias com distribuidoras e profissionais da área, estudamos o funcionamento dos clubes de assinatura, elaboramos a nossa plataforma e a rede social exclusiva para membros. Agora o nosso clube está aberto para todo os amantes de cinema.
Esquina: O que as pessoas podem esperar da caixa?
Gleisson: Muito conteúdo! Não só de entretenimento, como conteúdo de conhecimento. O nosso objetivo é alinhar sempre essas duas coisas. Cada mês nós trabalharemos um tema diferente do universo cinematográfico, que podem ser movimentos, gêneros, diretores, entre outros. Nas caixas, os membros recebem filmes em mídia física referentes ao tema, uma revista com conteúdo de conhecimento para que ele possa se aprofundar naquela obra ou naquele tema, alguns mimos cinéfilos, pôsteres e um snack pra completar a experiência. E ao assinar a Rosebud, o cinéfilo entra para a nossa rede social exclusiva para membros, e lá tem acesso aos artigos produzidos pela Rosebud e aos Masterclasses gravados com os nossos curadores e colaboradores. Pretendemos abordar temas e filmes não tão acessíveis no mercado, filmes cultuados, importantes para a história do cinema, filmes independentes e de todos os continentes.
Esquina: Há um boom no mercado de caixas literárias e caixas nerds. O segmento de cinema ainda não foi bem explorado. Porque acham que ainda não houve essa atenção para o cinema?
Gleisson: Acredito que por dois motivos. Um deles é que a viabilidade de um clube de cinema depende de parcerias com as distribuidoras, e isso não foi algo fácil de conseguirmos. Outro motivo deve-se as incertezas do mercado cinematográfico na atual conjuntura tecnológica. Nós optamos por trabalhar com mídia física na era do streaming pois acreditamos que a relação entre o cinéfilo e o filme é diferente. Ter o filme é uma sensação diferente de ver o filme. Nosso objetivo não é consumo de entretenimento rápido, pelo contrário, é fazer analise dos filmes, aprofundamento na arte, o conhecimento sobre o cinema, sua diversidade de histórias, formas de storytelling e diferentes técnicas.
Esquina: Como funciona a curadoria de temas de vocês? Como agradar os mais diversos e plurais grupos cinéfilos?
Gleisson: Todos os meses convidaremos profissionais da área, teóricos e professores de cinema para serem nossos Curadores e compartilharem seus conhecimentos sobre os temas. Os membros receberão esse conteúdo através de um masterclass gravado pela Rosebud e uma revista com muito mais conteúdo sobre a sétima arte. Agradar todo mundo é difícil, mas nós acreditamos que os apaixonados por cinema vão gostar de conhecer mais até sobre os gêneros, diretores e movimentos que não gostem tanto. A arte provoca diversas reações e isso é interessante de ser observado, mesmo que o membro não goste de determinado filme ele vai saber e entender porque aquele filme é importante naquele dado contexto.
Esquina: Qual a expectativa com as primeiras caixas? O que estão esperando?
Gleisson: Nós lançamos o clube em Novembro e a recepção não podia ser melhor, conseguimos esgotar as primeiras assinaturas apenas com a nossa lista de espera. Esperamos que a gente realmente consiga chegar aos cinéfilos de todo o país e formar essa comunidade. Nós queremos transcender o status de clube de assinatura e nos tornarmos, no imaginário dos nossos assinantes, um curso de cinema. Além disso, nós esperamos estabelecer conexões com diversos setores do cinema, festivais, mostras, cineclubes, produções, exibições, escolas de cinema e etc. As possibilidades são infinitas e o cinema é o lugar onde tudo é possível.
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