Na última semana, após um longo hiato, voltei a pegar um livro de João Guimarães Rosa nas mãos. Minha primeira viagem ao mundo do autor mineiro havia sido logo após o fim do Ensino Médio, quando estava ávido por literatura brasileira. Foi Grande Sertão: Veredas. O resultado não foi feliz: não entendi quase nada, me entendiei e acabei abandonando o livro sem finalizá-lo.
Hoje, vários anos depois, voltei ao encontro de Guimarães Rosa por um acaso do destino. Por meio da parceria com a Global Editora, recebi o livro Primeiras Estórias. É uma reunião de vários contos e historietas do autor mineiro, já com sua marca registrada: histórias aparentemente simples, mas profundas; muitos neologismos; e um intrincado sistema e lógica narrativa.
A leitura, felizmente, fluiu muito melhor do que no meu primeiro contato. Li, entendi, mergulhei. E aí fiquei pensando: quando ler João Guimarães Rosa? Mais: como decifrar sua escrita, tão original e diferente do usual? Foram essas perguntas que levei para diferentes pessoas, que deram seus relatos para, enfim, nos ajudar a desbravar ainda mais a literatura de Guimarães.
Élton Cruz, leitor de primeira viagem
Por anos adiei minha viagem inadiável ao universo do Rosa. Sou estudante de letras e sempre falei que sim, já tinha lido Grande Sertão: Veredas, Sagarana. Até os contos. Tudo. Mentira! Falava só para não parecer distante ou coisa do tipo. Tinha medo de adentrar no matal denso e bruto da literatura de João Guimarães Rosa. Tinha medo de não entender os neologismos, de me perder nas histórias. Até que, há algumas semanas, abri Sagarana, que estava guardado no armário pegando pó, e comecei a ler. Muita coisa não entendi, muita coisa passou batida. Muita coisa não fazia sentido para mim. Mas sabe o que é incrível? Eu entendi o todo. Eu, afinal das contas, senti o que Guimarães Rosa queria passar. Senti suas palavras, sua literatura, tudo ali. Aí você me pergunta: como? Bom, não sei bem ao certo. O que sei é que você precisa estar disposto a sentir o que as palavras querem dizer. Assim como um filme do Terrence Malick ou coisa que valha, tem que estar no clima. Estar disposto. E, principalmente, estar aberto a receber o que a literatura de Guimarães Rosa tem a dizer. Estava assim. E tudo ali deu certo.
Paulo Bacilynski, professor de literatura
Dou aula de literatura há 15 anos e é sempre um desafio introduzir Guimarães Rosa no cotidiano dos alunos. Não é uma leitura fácil, ainda mais para gerações menos acostumadas a ler. O que eu tenho feito nos últimos anos, e dado muito certo, é um "Guimarães Rosa em doses". De vez em quando, e sem nem os alunos perceberem de fato, insiro a leitura de um conto do mineirinho. É difícil, é desafiador. Mas é interessante como os alunos participam. Começo com um simples, vou para o mais difícil. E por aí vai. Depois, lá pro começo do 3º ano do Ensino Médio, introduzo no primeiro semestre a leitura de um de seus romances. Vira leitura obrigatória. Ainda que muitas pessoas ainda não gostem ou não tenha familiaridade com o que ele escreve, funciona! Muitos alunos saem gostando de Guimarães, querendo ler mais. Acho que esta é uma fórmula não só para as escolas, mas para todos. É preciso saborear aos poucos, sentir a escrita do autor. Leia um conto um dia, espere um pouco e depois leia outro. No final de um mês, se arrisque em ler algo maior. Talvez um artigo, que tem aos montes em um banco de dados da USP. Depois, quando estiver confortável, leia um de seus romances. O importante é não desistir. Guimarães Rosa tem uma obra muito profunda e importante pra desistir de cara.
Marco Luciano, departamento comercial da Editora Global
Com um olhar comercial em direção a obra “Sagarana”, posso sugestionar a leitura desse excelente livro, pois trata-se de um clássico que foi indicado como leitura obrigatória por comissões de especialistas de algumas Universidades Federais Brasileiras, podemos citar: UFSC, UFRJ, USP. A obra quando chegou na Global Editora, recebeu uma capa nova, a qual teve muitos elogios diante do seu novo projeto.
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