Stephen Hillenburg, criador do desenho Bob Esponja, morreu aos 57 anos nesta terça-feira, 27. A causa da morte, tão precoce, foi esclerose lateral amiotrófica -- ou a chamada ELA, mesma doença que acometeu o físico Stephen Hawking. Biólogo de formação, o animador não só criou um marco na Nickelodeon, canal que produzia seu desenho há quase 20 anos, como na animação mundial. Mostrou que com bom humor, inocência e personagens inteligentes, era possível criar desenhos para todos os públicos, todas as faixas etárias, todos segmentos sociais. É humor de verdade, afinal.
A série de animação surgiu no início dos anos 2000, quando o Cartoon Network dominava a concorrência contra a Nickelodeon. Afinal, o canal líder tinha O Laboratório de Dexter, Coragem e Johnny Bravo em sua programação. A Nickelodeon também possuía alguns títulos fortes, como Hey, Arnold! e Rugrats, mas não conseguia marcar presença tão fortemente. A estabilização entre os dois canais só veio de verdade com a chegada de Bob Esponja, um desenho que funcionava para pais e adultos e que conseguiu fazer história ao longo de 250 episódios e em mais de 60 idiomas no mundo.
Bob Esponja, que mostrava o cotidiano de seres marinhos da Fenda do Bikini, virou o carro-chefe da Nickelodeon e ajudou a formar a memória de crianças e adultos sobre o canal alaranjado. Bob Esponja, o protagonista da série que mora num abacaxi, veste calças quadradas e trabalha como chapeiro na hamburgueria Siri Cascudo, eternizou sua figura no imaginário coletivo. O mesmo vale para os coadjuvantes Lula Molusco e Patrick, cada qual com sua particularidade e que ajudava a dar o tom geral dessa divertida, estranha e marcante história marítima. Difícil esquecer desse ótimo trio.
O que mais fez com que Bob Esponja se tornasse não apenas um marco para o canal responsável como também para o mercado da animação foi a ousadia de seus roteiros e a "lições de moral" ao fim de cada episódio. Enquanto a maioria dos desenhos apostava numa certa caretice, ainda que os anos 1990 e 2000 fossem bem mais "soltos" do que hoje em dia, Bob Esponja não tinha medo de colocar elementos adultos no meio das histórias. Em um dos episódios, por exemplo, Bob e Patrick aprendem a falar um palavrão -- que é substituído pelo som de um golfinho. Em outro, fazem greve contra o Sr. Sirigueijo.
São temas universais e que funcionam para todas as faixas etárias. Crianças vão rir da inocência do Bob Esponja, da burrice do Patrick ou do mau humor do Lula Molusco. Pais, enquanto isso, vão se identificar e se divertir com o humor non-sense de alguns personagens. É um desenho feito para todos e que veio da mente brilhante Stephen Hillenburg, um biólogo que teve a ideia da animação em plena sala de aula, enquanto falava sobre o fundo do mar. Histórias ingênuas, feitas para rir e sem objetivos claros. Há algo melhor do que isso em um desenho animado para entreter e passar o tempo?
Certa vez, em entrevista ao site G1, Hillenburg destacou essa qualidade. "Nós apenas tentamos rir enquanto escrevíamos as histórias", lembrou. "E depois olhávamos para saber se era apropriado para as crianças. E eu acho que grande parte do humor vem da personalidade [dos personagens]. São apenas personagens engraçados fazendo coisas bobas."
Stephen Hillenburg deixa uma obra com potencial de perdurar ao longo dos anos. Roteirizou os dois filmes sobre os personagens -- com destaque para o primeiro, bem mais divertido e original do que o segundo. Eternizou momentos marcantes, personagens bem construídos e até memes -- o do Bob Esponja primitivo. Sem falar dos ótimos personagens secundários que mostraram todo o poder da animação e criatividade de Hillenburg, como o Homem Sereia, o Mexilhãozinho e Gary, o caracol de estimação. Uma pena que tenha partido tão cedo. A TV precisa de mais humor como o de Bob Esponja.
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