O termo “clássico” é sempre rodeado de cuidados quando se trata de cinema. É muito difícil determinar o que é ou o que deixa de ser um filme clássico -- o original Blade Runner, por exemplo, nasceu como uma aberração e se tornou imortal na mente de cinéfilos ao redor de todo o mundo. Além disso, um filme pode se tornar clássico para alguns críticos, enquanto é apenas mais um filme para outros. E aí vem a pergunta: Robocop, que completa 30 anos de sua estreia, é um clássico?
Curiosamente, este longa-metragem de Paul Verhoeven (Elle) ainda divide opiniões. Muitos acreditam que se trata apenas de mais um bom filme de ficção científica e nada mais -- ao lado de O Exterminador do Futuro e O Vingador do Futuro, por exemplo. Outros abominam o longa, taxando-o de pouco original por conta de sua trama parecida com a HQ Cavaleiro das Trevas ou achando-o violento em demasia. Por último, há os que consideram Robocop um clássico inesgotável.
Eu, como está claro no título desta matéria, considero Robocop estou neste último grupo, sem nem ao menos considerar outras opções. Aqui vou explicar os meus motivos. Primeiro por conta da ousadia da trama. Sim, o sangue jorra da tela em sequências verdadeiramente brutais e que chocam. Não há dúvidas. No entanto, para os que não gostam deste recurso, sabia que ele foi usado, em grande parte, como um meio de explorar diversos assuntos que abalavam a sociedade na época.
Manipulação da mídia, medo da tecnologia, exploração de trabalhadores, críticas às armas nos Estados Unidos. São vários os temas -- muitas vezes sensíveis -- que são tocados de forma corajosa por Verhoeven. Tudo por meio de alegorias dentro da distopia criada em torno da trama que conta a história de um policial ferido que tem resto de corpo transferido para um aparato robótico. Até hoje, poucos filmes conseguiram criticar tão bem tais temas, de uma só vez.
Além disso, há cenas que ficaram marcadas para a história, como a reconstrução do corpo do personagem principal. São momentos que entraram para a memória cinematográfica de milhares e milhares e milhares de pessoas. Há muito ainda a ser elogiado da parte técnica do longa-metragem. Mesmo sendo feito há 30 anos, os efeitos são surpreendentes e todas as atuações contém um grau de complexidade interessante e que é recompensado pelos bons atores.
Hoje, Robocop inspirou dezenas de filmes distópicos e sua estética ainda inspira outras dezenas -- em um rápido exercício de memória, é possível citar Elysium, Chappie e, em termos estéticos, Eu, Robô. Difícil acreditar, então, que alguns ainda pensem em Robocop como apenas mais um filme de ação, visto todos questionamentos que ele traz e, principalmente, toda influência que exerceu. Verhoeven fez história com este longa e merece ser comemorado.
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