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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Legalize Já!' é estiloso filme biográfico sobre Planet Hemp


Como o próprio diretor Johnny Araújo disse, é muito fácil perder a mão em filmes biográficos e torná-los uma caricatura. Foi assim com o recente e vergonhoso Polícia Federal, Chatô: O Rei do Brasil e Getúlio -- apenas para citar exemplos brasileiros. No entanto, o longa-metragem Legalize Já! não sofre desse mal e entrega, de maneira inteligente e estilosa, um bom filme biográfico sobre a criação da banda Planet Hemp.

A trama, ao invés de optar por um roteiro inchado e que tente contemplar toda a vida de seus biografados, vai direto ao ponto. Marcelo D2 (Renato Góes) é um vendedor de camisas nas ruas cariocas e que sofre quando volta para casa. Afinal, o pai (Stepan Nercessian) quer que ele encontre um lugar para chamar de seu e a namorada Sônia (Marina Provenzzano) está grávida e precisando encontrar um lugar para fazer aborto.

Do outro lado da equação, Skunk (Ícaro Silva) não tem mais objetivos na vida que não seja a música. Ele tem AIDS, nenhuma perspectiva de recuperação e, como apoio, conta apenas com um argentino e dono de um bar nas proximidades (Ernesto Alterio). A vida de Marcelo e Skunk, então, se reúne quando os dois estão fugindo da polícia e, assim, acabam descobrindo uma afinidade musical ainda rara para a década de 1990: o rap.

A partir daí, os diretores Johnny Araújo e Gustavo Bonafé (do divertidíssimo Chocante) trabalham em cima do bom roteiro de Felipe Braga (da série Mandrake) e criam um filme cheio de estilo e inteligência. A começar pela fotografia, com um estilo lavado, quase preto-e-branco, que vai sendo modulado de acordo com as interessantes nuances da história. Afinal, a vida ali é sem cor, sem presente, sem futuro. Como ter uma palheta de cores vibrante? Escolha arriscada, mas acertadíssima da dupla.

Além disso, seguindo a coesão e a eficiência do roteiro, que não perde tempo, Araújo e Bonafé avançam num filme com dinamicidade e que mistura emoções -- um carrossel, assim como foi a vida de Marcelo D2 e Skunk. Não há artificialidade, ainda que algumas sobras, como a trama envolvendo o pai de Marcelo e algumas questões em aberto de Skunk que acabam incomodando. Difícil de resolver narrativamente, mas atrapalha.

O que funciona muito, muito bem é a atuação da dupla Ícaro Silva (Elis) e Renato Góes (Velho Chico). Os dois se entregam ao papel e, ainda que Ícaro exagere nas feições em alguns momentos, só há incremento positivo à trama. Grandes atores em grandes papéis. Sem dúvidas, é preciso ficar ainda mais de olho nos próximos trabalhos da dupla. Stepan Nercessian (Chacrinha) e Marina Provenzzano (A Frente Fria Que a Chuva Traz).

A música, de responsabilidade do próprio Marcelo D2, também é bem equalizada com a história. Os sucessos do Planet Hemp são inseridos nos momentos corretos e a trilha original é inserida de maneira discreta, delicada, sem incomodar ou atrapalhar o resto. Vale ressaltar, também, o excelente trabalho vocal de Renato Góes que, mesmo não tendo intimidade com a música, conseguiu se transformar totalmente em Marcelo D2. Quando ele canta, parece que é a música original. Sem dúvidas, é impressionante.

Assim, Legalize Já! é um filmaço para qualquer um que tenha interesse em uma boa história sendo contada pelo cinema nacional. Extrapolando um nicho de fãs da banda, o longa-metragem acerta na direção, no roteiro, nas atuações, na fotografia. Há algum excesso de história, alguns pontas que não foram aparadas, mas nada que atrapalhe o resultado final. É assim, afinal, que se faz uma boa biografia nos cinemas. Direto ao ponto.

 

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