Difícil não se animar ao saber que Judi Dench está em mais um filme de espiões. Depois de encarnar a líder M na franquia de James Bond, a atriz octogenária volta ao subgênero com o drama de época A Espiã Vermelha. No entanto, ao contrário do que a sinopse oficial do filme sugere, nada de grandes tramas de espionagem, ação ou intrigas internacionais. O foco deste novo filme de Trevor Nunn (Lady Jane) é o drama que envolve a história real de uma espiã inglesa, na Segunda Guerra Mundial, descoberta apenas décadas depois, quando está com a vida restabelecida na Inglaterra aos 80 anos.
O longa, porém, não foca apenas na velhice da espiã Joan, que é interpretada, nesta fase da vida, por Dench. Pelo contrário. A maior parte dos 110 minutos de duração do filme se concentram na história dela quando jovem, bem durante a Segunda Guerra -- e, desta vez, vivida pela boa atriz inglesa Sophie Cookson (Kingsman). Ao longo desse período, Joan é uma jovem cheia de ideais e que acaba indo trabalhar no escritório britânico que está desenvolvendo a bomba atômica. Chocada com o desenrolar da guerra, ela acaba se rendendo à amigos e paixonites e colabora com a então URSS.
Nunn, como já tinha mostrado em seus outros filmes, é um diretor inglês clássico. Não se dá a arroubos criativos, nem tenta malabarismos narrativos. Sua condução é firme, quase monótona, e não há nada de surpresa. E talvez seja esse o grande problema de A Espiã Vermelha. Ainda que seja interessante ver a história de uma idosa, já na casa dos 80 anos, assumir seu papel como espiã, a maior parte do filme se passa bem antes disso. É, de fato, os relacionamentos dela quando jovem e como isso fez com que Joan roubasse arquivo delicados do governo britânico para, de algum modo, favorecer russos.
Sem criatividade e sem ousadias, Nunn faz com que o filme se torne apenas mais um na multidão. Há destaques, claro, como a boa atuação da belíssima Sophie Cookson, que mostra ter, cada vez mais, um ótimo talento a ser cada vez mais explorado. E, como é de praxe, a boa presença de cena de Dench. Ainda que ela esteja cada vez mais limitada fisicamente em ação, seu poder interpretativo cresce a cada filme. Mesmo com poucas sequências, é marcante -- principalmente em uma que faz revelações no seu jardim.
A recriação de época também é interessante. Os ingleses, que amam falar sobre a Segunda Guerra Mundial, parece que já possuem um modus operandi para produções da época. Cenários são coesos, bem feitos, e sem extravagâncias. O figurino funciona de acordo, sem roubar a cena ou causar distrações. Aqui, há uma boa conversa entre roupas e narrativa, que ajuda a fazer com que o espectador mergulhe de fato na trama.
No entanto, como já citado, tudo é muito banal, muito genérico. Nada se diferencia de outros filmes de época com tempero de espionagem, como o recente The Exception -- que se vale de uma surpresa narrativa para marcar o espectador. É preciso ter algo a mais. Uma reviravolta, um ponto fora da curva. A Espiã Vermelha, por mais que tenha elementos que impressionam, como as atuações e a recriação de época, não vai além e morre na praia. Um pouco mais de criatividade e o filme seria muito bom. Até ótimo, talvez. Mas, dessa maneira, feito de maneira tão genérica e esquecível, é só regular.
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