Certamente Virgulino Ferreira, o Lampião, é o personagem mais documentado no audiovisual brasileiro, entre longas ficcionais, documentários ou híbridos. A lista de filmes sobre o personagem, Maria Bonita e o cangaço, do qual Lampião foi seu maior representante, é significativa e abarca quase 90 anos de registro audiovisual sobre eles, desde que o ex-mascate e fotógrafo libanês Benjamim Abrahão acompanhou o bando de Lampião em 1937, num lugar chamado Bom Nome, no sertão nordestino.
O diretor cearense Wolney Oliveira, que já tinha dirigido outro filme sobre o cangaço, Os Últimos Cangaceiros, de 2011, passou grande parte de sua carreira de cineastas entrevistando e filmando personagens do cangaço.
Ele falou hoje no debate sobre o filme que aconteceu no hotel Sonata na praia de Iracema, em Fortaleza, que tem mais de 219 horas de filmagens que ele condensou para 90 minutos no filme Lampião, Governador do Sertão, que passou ontem a noite numa sessão especial do Cine Ceará.
Foi a primeira exibição do filme no nordeste, depois de ter passado no Festival Internacional de Documentários É Tudo Verdade em abril deste ano, no cineteatro São Luiz, com presença de bisnetas, netas e a filha de Lampião e Maria Bonita, Expedita, que está muito bem e lúcida aos 92 anos.
O filme é um registro épico do que representa para cultura nordestina e brasileira o mito de Lampião, Maria Bonita e do Cangaço, e polifônico, onde o diretor permite que o espectador tenha acesso a depoimentos dissonantes a respeito desses personagens que entraram no imaginário popular para o bem e para o mal.
Apesar de trazer as ditas “cabeças falantes”, dos documentários, o filme de Wolney não se torna cansativo, tampouco pedante, dando visibilidade para estudiosos, pesquisadores, familiares, profissionais de turismo e até crianças de uma escola pública, mostrando que o assunto não tem distinção de classe nem de cargo.
O filme mostra que o mito de Lampião e seu bando rompeu fronteiras e hoje pertence a cultura popular do nordeste, com infiltrações na Cultura, na música, na dança, no cinema, na academia, na literatura, etc. Ou seja, é um mito, uma lenda, não importando o que se pensa a respeito, contrário ou não ao que o cangaço representou na história.
Dentro da mostra competitiva de longas Ibero-americano, foi exibido, ontem a noite, pela primeira vez no cinema, o filme Um Lobo Entre os Cisnes, de Marcos Schechtman e Helena Varvaki, uma cinebiografia do bailarino Thiago Soares (veja entrevista com ele abaixo), que faz um retrato do jovem do subúrbio carioca que fazia dança de rua e hip-hop, e descobre e se apaixona pelo balé clássico por meio do seu mentor artístico, o cubano Dino Carrera.
Um dos maiores expoentes da dança clássica brasileira no exterior, Thiago Soares, falou do seu contentamento de ter sua história retratada no filme, que conta a saga, uma verdadeira epopeia, desse jovem morador da Vila Isabel que ganha os palcos do balé clássico do mundo, se tornando o primeiro bailarino do Royal Ballet de Londres, em 2006.
“É algo imaginável você ter parte da sua história contada num filme, nunca pensei que um dia isso pudesse acontecer. Só tenho que agradecer a vida e as pessoas que me cercaram ao longo da minha existência, em especial ao Dino”.
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