O documentário Vozes da Floresta, da diretora carioca Betse de Paula (O Casamento de Louise e Vendo ou Alugo), foi exibido pela primeira vez ao público brasileiro na mostra competitiva de longas do Cine Ceará na segunda, 2. Derivou-se de uma série para TV que ela realizou há alguns anos. Daí reside o principal problema desse filme, como produto de cinema, que exige linguagem elaborada, forma e complexidade narrativas, que ele não tem.
A questão ambiental e as lideranças populares brasileiras que trabalham em torno dela é um dos principais assuntos no atual governo de extrema direita de Jair Bolsonaro. Haja visto a repercussão das queimadas na floresta amazônica em todo o mundo há duas semanas.
Um projeto, no caso um filme, que aborde esse assunto sobre o meio ambiente e das lideranças populares que trabalham nessa com ela, ganha simpatia automática e interesse do espectador. Por conta disso, a primeira exibição do filme de Batse no Cine Ceará foi recebida com simpatia pelo público, ainda mais trazendo, para a abertura da sessão, lideranças de mulheres de quilombolas no Maranhão.
A diretora trouxe para o festival três lideranças femininas que estão no filme. Nice Machado, Dorinete (Neta) Morais e Rosenilde Costa. Todas mulheres negras que nasceram e cresceram em quilombos no Maranhão. Vozes femininas articuladas e cativantes, o que fez com que o público ficasse ainda mais afeito ao que se projetou na tela de cinema no Cineteatro São Luiz. O filme ganhou calorosas palmas no final.
Mas estamos falando de um festival de cinema, e que trata de filmes que abordem qualquer tema, usando linguagem, forma e complexidade narrativa para sua realização. E como falamos no início da matéria, aí reside o problema do filme, não trazer rigor narrativo e de linguagem para contar o belo legado de luta dessas mulheres, seja lideranças indígenas, lideranças da sociedade civil ou quilombolas negras que trabalham e vivem da extração de coco estado do Maranhão, as quebradeiras de coco.
Ao Esquina, a diretora Betse de Paula falou que Vozes da Floresta derivou do material da série, mas ela remontou e filmou mais para chegar ao formato dele. Mesmo com esse esforço extra para refazer uma série e transformá-la num filme, não alcançou seu objetivo. Pois o que vemos é um filme didático e de estrutura bem convencional.
São depoimentos de lideranças populares, imagens de arquivo e muita filmagem pelas regiões retratadas no filme, que dão força imagética ao legado do trabalho daquelas mulheres. Uma câmera que se embrenha por eles os lugares de vivência e luta, uma imersão aos santuários da nossa natureza, tão ameaçada e negligenciada nos governos, inclusive do Partido dos Trabalhadores (PT), que deu licença à construção de Belo Monte.
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