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Foto do escritorAmilton Pinheiro

Chapada Diamantina recebe a Fligê, feira que discute literatura e ancestralidades


Antes, Um Pouco de História


Entre os séculos 18 e 19, garimpeiros trabalharam incansavelmente, juntamente com escravos, nas extrações de minérios, sendo o diamante o mais cobiçado, na região da Chapada Diamantina. Um dos lugares dessas busca frenética pelas riquezas minerais vindas de dentro da terra foi uma lugarejo chamado Xique-Xique, um distrito da cidade de Andaraí, que se tornaria a Vila Igatu de outrora e hoje chama-se somente Igatu, com uma população estimada de 500 habitantes.


Igatu é um lugar perdido na Serra do Sincorá, que foi quase totalmente abandonada pelos garimpeiros quando o Ciclo do Diamante acabou, ficando os resquícios de suas construções de pedra em ruínas. Mas a cidade resistiu e hoje é um dos lugares turísticos mais visitados da região da Chapada Diamantina, com sua imensidão de vales profundos, chapadões, casarios, casas de pedras dos tempos áureos, rios e um povo local, filhos de garimpeiros e de ex-escravos, além de forasteiros que descobriram a beleza desse enorme patrimônio natural.


Mas a Feira Literária de Mucugê, a Flilgê, nasceu na cidade de Mucugê, em 2016, lugar que foi um povoado fundado em 1844 por fazendeiros que criaram gado e que a batizaram de Mucugê do Paraguaçu, que se tornaria Freguesia de São João do Paraguaçu em 1890 e Mucugê a partir de 1917.


A Fligê, a extensão para Igatu e as homenagens às manifestações populares locais


Em 2017, a Fligê, que tem curadoria da professora universitária Ester Figueiredo, ganharia um lugar para estender sua programação: Igatu. Tornou-se, assim, a Fligê & Tu, com curadoria do artista plástico Marcos Zacariades, que é proprietário da Galeria Arte & Memória de Igatu, local que abrigará os eventos dessa extensão.


E foi ontem, 10, numa linda noite fria e enluarada que a Fligê & Tu iniciou as atividades da 5a edição do evento que traz este ano como temas principais a Literatura e Ancestralidades, na Galeria Arte & Memória com a presença dos curadores, Ester Figueiredo e Marcos Zacariades e dos artistas homenageados.


Antes de Mesa Temática: Reis, almas e jarê – cantigas para a eternidade, foram abertas duas exposições de dois artistas, Alumiar, de Ricardo Sena, com fotografias das mulheres locais praticantes do Terno das Almas, que é um ritual, uma procissão de mulheres e crianças que saem nas ruas à noite com lençóis brancos durante a Quaresma e todos os dias da Semana Santa para cantar e louvar as almas dos mortos.

No texto sobre a exposição Alumiar, o fotógrafo Ricardo Sena, que é de Salvador e documenta Igatu a mais de 20 anos e o Terno das Almas a quase dez anos, diz que essas manifestações reúnem “os elementos que me tocam e acessam algo de primitivo: a fé. O rito acontece diante de num cenário por vezes medieval, outras natural. A música entoada por mulheres como lamentações, o peregrinar no breu envolto em lençóis brancos, como uma tropa espiritual, o bater da matraca e o acender de velas brancas em alguns pontos do circuito, deixam-me em estado de transe”.


Numa outra sala de exposição da Galeria Arte & Memória, o artista local Mestre Chicão (veja, a seguir, o vídeo que fizemos com ele durante a abertura de sua exposição), apresentou seus mosaicos de cacos de louças, pequenas garrafas e vidros que ele recolhe na região e coloca em suportes, como cascas de árvores. Hoje, com 66 anos, o ex-garimpeiro e filho de garimpeiro é uma das figuras mais conhecidas da região, com seu importante trabalho arqueológico e etnológico, que já foi chamado do Gaudí de Igatu, num referência ao artista espanhol Antoni Gaudí (1852-1926), arquiteto e artista plástico moderno.



A noite se encerrou magicamente com a Mesa Temática: Reis, almas e jarê – cantigas para a eternidade, com a presença de algumas mulheres e homens locais, praticantes do Terno das Almas e do Jarê, com mediação de Marcos Macariades, que falaram de como lutam para que as tradições e manifestações continuem sendo passadas de gerações para gerações. E entre uma fala e outra, as mulheres e os dois rapazes presentes entoaram os cânticos que louvam os mortos durante o Terno das Almas, tendo como testemunhos, além do público presente, a lua majestosa no céu e as chapadas a nos lembrar da simplicidade e finitude da vida.


Em Cima da Hora


A Fligê & Tu foi oficialmente aberta hoje, 11, no Centro Cultural de Mucugê, às 19h, que será seguida de uma Conferência Literatura e Ancestralidades: o solo originário do gesto, às 20h, com a palestra de Daniel Munduruku. A noite se encerra com o show de Mateus Aleluia, às 21h30, na Praça dos Garimpeiros.

 

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