Estamos passando por um momento interessante das animações infantis: depois de anos com as produções se tornando clássicos rapidamente, 2017 está sendo um ano mais fraco para conteúdo infantil. Já chegamos na metade do ano e nada ainda chamou muito a atenção. Moana é razoável, nada demais. LEGO Batman, O Poderoso Chefinho e Smurfs ficaram aquém do esperado, com as bilheterias tendo um desempenho mediano.
Agora, chega aos cinemas um respiro do cinema independente: a animação Bruxarias. De origem espanhola, o desenho conta a história de Malva, uma menina que fica encantada com os 'poderes' de sua avó, uma curandeira. E além dela, uma malvada empresária do ramo de cosméticos passa a ter interesses nos produtos da avó, que, além de curar de doenças, fazem as pessoas voarem e ganharem 'poderes mágicos'.
Assim, com uma animação simples e sem grandes invencionices -- e que lembra o ótimo Coraline --, Bruxarias é um filme tradicional, feito para crianças. Ponto final. Não é interessante para pais, nem para crianças mais velhas. É um daqueles filmes simples, sem grandes reviravoltas ou lição de moral, feito apenas para os pequenos darem risadas e se divertirem com os caramujos loucos -- que enjoam um pouco, mas são bonitinhos -- e do cachorro/gato/furão que rende alguns bons momentos.
Ou seja: Bruxarias não é um novo clássico infantil como Frozen, A Bela e a Fera ou O Rei Leão. É um filme, porém, que diverte as crianças e que cumpre o seu papel de filme infantil. E com essa função, Bruxarias é o filme que, por enquanto, faz com que 2017 não seja um fracasso total no cinema para crianças.
Para entender um pouco mais da criação de Bruxarias, o Esquina entrevistou a diretora Virginia Curiá, espanhola e que tem em Bruxarias a sua primeira criação em longa-metragem. Na pauta, falamos sobre o filme, sobre o atual momento da animação no cenário independente e sobre os novos rumos de produções infantis na era da Netflix e de novas plataformas de streaming, sem ter a TV como personagem principal. Abaixo, os melhores trechos da entrevista com a diretora Virginia Curiá:
Qual foi a inspiração para realizar o filme? De onde surgiu a ideia?
Bruxarias nasce em torno de uma ideia de dar uma imagem renovada e mais real para as bruxas galegas, as curandeiras, que durante séculos foram chamadas de bruxas, quando na verdade elas ajudavam seus vizinhos por meio de conhecimentos de plantas e de remédios naturais para curar ou aliviar dores e doenças.
Atualmente, sinto que estamos passando por uma safra ruim de animações de grandes estúdios. O caminho é o cinema independente para os desenhos?
São produções distintas e que possuem diferentes maneiras de comercialização. Até o momento, grandes estúdios estão permeando todo o mercado, mas acho que estamos abrindo novas vias de distribuição e exibição que permitirão a existência de produções menores. Espero um espaço onde todos podem trabalhar e atingir o público ideal.
Senti que o filme tem um toque de simplicidade genuíno, que não é visto de maneira tão frequente nas novas animações de grandes estúdios. Como resgatar essa simplicidade?
Sim, a abordagem estética procurou ter simplicidade visual. A gente não queria sobrecarregar os espaços para aproveitar melhor a história.
As crianças, público de 'Bruxarias', estão passando por uma transformação. Deixaram de ver apenas desenhos e dão mais atenção ao YouTube, Netflix. Como competir com essas outras mídias?
Eu acho que não se trata de competir com novas plataformas. Acredito que temos que aprender a usá-las como novas ferramentas, que permitirão desenvolver melhor o nosso trabalho e todo seu alcance. Quando as crianças têm liberdade de escolher o que vão assistir, nós temos que oferecer qualidade no conteúdo, ritmo e desenho. É um desafio mais atraente. No entanto, cinema não vai desaparecer por conta dessas novas formas de consumo de conteúdo.
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