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Foto do escritorMatheus Mans

As diferentes famílias no cativante 'Ambiente Familiar'


Alex, Fagner e Diógenes são três amigos que, a partir de memórias e ausências, acabam por formar um forte e inesperado laço familiar. Assim, o trio se muda junto para uma casa e passa a dar apoio emocional uns para aos outros, esperando apenas compreensão em troca. Afinal, é assim que eles esperam superar os traumas vividos no passado e encontrar um caminho seguro para seguir em frente com a vida adulta.

Essa é a trama do primeiro longa-metragem do cineasta Torquato Joel, o provocativo e interessante Ambiente Familiar. Mistura de documentário com ficção, o filme convida o espectador a embarcar numa série de regressões e memórias para dentro de cada um daqueles personagens que se apresentam na tela. Nada de obviedades ou clichês. O que Joel faz é um exame original de como relações familiares podem surgir a partir da dor.

"Família não necessariamente é sinônimo de consanguinidade", disse o cineasta em entrevista exclusiva ao Esquina. A ideia do longa, aliás, surgiu a partir de observações do próprio Joel, que alugou seu apartamento para o trio de protagonistas e começou a notar vínculos formados espontaneamente. "Era surpreendente ver três rapazes, que tinham ido morar juntos para dividir despesas, se comportando como uma família".

O resultado é um longa-metragem original, sensível e fora do lugar-comum. O paraibano Torquato Joel soube mesclar memórias, ficção e realidade. A confusão passa longe.

Abaixo, confira entrevista do Esquina com o diretor sobre seu primeiro longa-metragem:

Esquina da Cultura: Como surgiu a ideia do filme? De onde veio a inspiração?

Torquato Joel: A ideia surgiu no momento em que passei a ter convivência com os três personagens principais após lhes alugar meu apartamento. Vi que a relação entre eles se assemelhava muito à relação que eu tinha com minha família. Demonstrações excessivas de zelo e afeto entre os três eram situações que eu estava habituado com minha mãe e meu pai na adolescência. Era surpreendente ver três rapazes, que tinham ido morar juntos para dividir despesas numa república, se comportando como família. Fazer um filme sobre os novos arranjos familiares foi o projeto inicial. Na primeira fase o projeto era de um documentário sobre o dia a dia de Fagner, Diógenes e Alex no ambiente familiar. Mas comecei com psicologismos a partir do momento que tentei entender a relação afetiva entre os três. Alguém ali fazia o papel de pai/mãe dos demais. Vindos de experiências tão difíceis na infância, do ponto de vista da condição social e das conturbações na esfera doméstica, aqueles "sobreviventes" eram matérias-primas para traçar uma radiografia em cinema de como somos constituídos emocionalmente a partir da primeira fase da vida. De documentário, o filme passou radicalmente para a ficção mas sem perder a referencia do real. Usei a imaginação pra falar dele, do real, com muito foco na infância atribulada que os três viveram, sobretudo nos momentos decisivos na relação com os pais.

Esquina: O longa-metragem mistura elementos de ficção e de documentário. Quais são os desafios para filmar assim?

Torquato: O grande desafio foi manter a ética. Afinal, trata-se de um tema em que mergulha-se muito no que há de mais íntimo da vida de pessoas reais. Busquei comedimento e poesia para abordar o que há de mais caro no passado e no presente dos três. Investi na imaginação infantil, em situações simbólicas para preservá-los, assim como na referencia dos folhetins porque as novelas foram ancora para filtrar e ajudar um dos personagens a enfrentar o lado brutal da vida.

Esquina: O filme, de certo modo, traz uma reflexão sobre a constituição de uma família -- aqui, os laços que unem os personagens são traumas do passado. Como você enxerga essa questão?

Torquato: Acho que família não necessariamente é sinônimo de consanguinidade. Um amigo pode ser mais irmão do que um irmão de sangue. Família é quem que elegemos pelo afeto, ou pela necessidade de afeto. Se o desejo for recíproco podemos escolher sim quem queremos como parente.

Esquina: O que espera com o lançamento de 'Ambiente Familiar'? Qual sua expectativa?

Torquato: Ambiente Familiar é minha primeira experiência em filme de longa duração.Tenho uma expectativa grande com relação à recepção do público. Investimos numa métrica pulsante na montagem para dar ritmo e surpreender a cada novo acontecimento da narrativa. Espero que o público embarque empaticamente no filme, ele trata da superação, de como é possível dar reviravoltas na vida apesar de seus percalços.

 
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