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  • Foto do escritorMatheus Mans

'Arquivo Raridades', de Zeca Baleiro, é álbum enérgico, mas disperso


Em 2017, o cantor e compositor Zeca Baleiro começou uma série de novos discos -- lançados apenas em streaming -- para resgatar composições e interpretações de sua carreira. Os dois primeiros serviram pra compilar duetos de Zeca com outros artistas, como Fagner, Zizi Possi e Chico Salem. Agora, o músico maranhense abre seu baú de interpretações perdidas no álbum Arquivo Raridades, lançado em todos principais serviços digitais.

De acordo com o próprio Zeca Baleiro, o álbum serve para trazer à público algumas canções que ficaram perdidas em ensaios, homenagens ou testes para trilhas sonoras de novelas. Ou seja: é um grande compilado de interpretações -- quase sempre ao estilo tradicional de Zeca -- que, na maioria das vezes, não chegaram a lugar algum. Duas delas, ainda, são músicas inéditas, nunca antes gravadas em um disco ou expostas ao grande público do cantor.

O álbum, porém, começa com um clássico: Baioque, de Chico Buarque. Com uma levada de rock'n'roll, ela ganha uma interpretação visceral de Zeca -- não é à toa que ela foi negada a fazer parte da novela de época Joia Rara. É uma bela interpretação da canção de Chico e abre os trabalhos do álbum com o pé direito. No entanto, logo depois entra uma canção bem abaixo: Envolvidão, do Rael. Ainda que esbarre no que Zeca fez com Price Tag, ela não funciona muito bem na voz do maranhense e fica se atropelando em cima de uma melodia estranha.

Mas tudo bem: depois, Zeca emplaca uma trinca de interpretações que vão num crescendo de qualidade: A Estrada me Chama, feita para a série O Dia em Que Tornamos Terroristas, tem uma pegada folk interessante, mas uma letra esquecível. Respeita Januário, enquanto isso, é uma belíssima homenagem à Luiz Gonzaga que ganha uma roupagem interessante e que valoriza a cadência da canção. Boa releitura de um clássico inesgotável do baião nordestino.

Já a inédita Sonho de Consumo é o ponto alto do álbum. Deliciosa de escutar, ela lembra as canções mais recentes de Zeca -- além de reverberar em Vai de Madureira -- e pode ser, facilmente, um novo single do artista maranhense. É torcer para as pessoas descobrirem ou, então, que Zeca a coloque num álbum vindouro. Com certeza, ela merece um espaço de destaque.

Logo depois, porém, o álbum dá uma quebrada de ritmo estranha, indo dessas canções tão típicas de Zeca para interpretações intimistas e românticas demais. Chuva Fina, de Michael Sullivan, tem uma roupagem estranha de música romântica datada. Já Tarde de Abril é mais interessante. Foi feita exclusivamente para Roberto Carlos, mas ele a ignorou. A certeza que fica com a interpretação é de que ela encaixaria como uma luva na voz do Rei, mas destoa um pouco da de Zeca.

A canção mais estranha e que destoa totalmente do resto do álbum, porém, é Vocação, composição gospel do Padre Zezinho. Com ares tribais, ela tem uma letra óbvia e de rimas pouco inventivas. Diminui demais o ritmo do álbum. Não funcionou dentro do que estava sendo reproduzido até então -- ainda mais por suceder Armadilha, que é uma música que parece feita para Zeca.

As quatro últimas canções do álbum, no entanto, voltam a elevar a qualidade enérgica de Arquivo Raridades. Por Causa de Você é Tom Jobim puro e vai muito bem na voz de Zeca, que dá uma leitura óbvia para a canção, mas que funciona num todo. Logradouro, de Rafael Altério, parece feita por Zeca Baleiro. Ainda que falte uma instrumentação mais forte em alguns momentos, tem bom refrão, boa musicalidade e boa letra. Zeca precisa investir nela em outros álbuns.

O Chamado, sucesso de Marina Lima e que fez parte do repertório da turnê do show Era Domingo, é um clássico já marcado na voz da cantora e é difícil mudar a percepção geral. Mas Zeca consegue dar uma interpretação interessante. Já Ponto de Fuga, de Chico Maranhão, fecha o álbum com chave de ouro, fazendo par com a abertura excepcional de Baioque.

No geral, Arquivo Raridades deixa claro os motivos de ser um lançamento digital. Ainda que enérgico, como é tradicional de Zeca Baleiro, as canções são dispersas demais e algumas das interpretações são destoantes -- como Vocação, Chuva Fina e Tarde de Abril. No entanto, o álbum revela algumas boas músicas de Zeca e que deixam a torcida para que elas sejam aproveitadas novamente no futuro. Muitas deles tem potencial de sucesso garantido.

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