Quem acompanhou hoje pela manhã no Canal do YouTube da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood as indicações do Oscar deste ano, da 96a edição, que será realizada em 10 de março em Los Angeles nos Estados Unidos, teve algumas poucas surpresas.
A mais surpreendente foi a indicação de uma diretora estrangeira, Justine Triet, de Anatomia de uma Queda, na lista dos cinco diretores nominados deste ano, sendo a única mulher, tirando a vaga quase certa de Greta Gerwig de Barbie, um dos filmes mais vistos, comentados e debatidos do ano passado.
Na lista dos indicados deste ano ao prêmio de direção do Sindicatos dos Diretores dos EUA, SAG, sigla em inglês, o melhor termômetro para os vencedores do Oscar, Greta Gerwig está concorrendo ao lado de Christopher Nolan, Martin Scorsese, Yorgos Lanthimos e Alexander Payne, outro que foi preterido no Oscar, perdendo a vaga para um não americano, o inglês Jonathan Glazer, de Zona de Interesse, um dos melhores filmes do ano passado.
Um pouco de história antes
A primeira mulher a concorrer ao Oscar na categoria de direção não foi uma americana. Na 49a edição, de 1977, a diretora italiana Lina Wertmüller concorreu por Pasqualino Sete Belezas (perdeu para John G. Avildsen de Rock, um Lutador, que também venceu como melhor filme daquele ano).
O que é importante falar aqui em relação a essa possível internacionalização do Oscar, já que ano a ano a Academia vem aumentando o número de pessoas votantes de outros países (hoje são 93 países com pessoas que votam), é que da lista dos dez indicados de melhor filme, três são de outros países: Anatomia de uma Queda, da França, Zona de Interesse, da Inglaterra e Vidas Passadas, da Coreia do Sul.
Outro aspecto que demonstra uma possível mudança de fato nessa internacionalização é que dos cinco diretores indicados; só Martin Scorsese é americano, sendo que dois são ingleses, Christopher Nolan e Jonathan Glazer, uma francesa, Justine Triet, e um grego, Yorgos Lanthimos.
Não podemos esquecer que recentemente um filme sul coreano venceu na principal categoria do Oscar, de melhor produção, em 2020. Foi Parasita, longa dirigido por Bong Joon-Ho, que também venceu na categoria de direção, sendo a primeira vez que um filme não inglês venceu nesta categoria. Em dois anos consecutivos recentemente, duas mulheres não americanas venceram na categoria de direção, a neozelandesa Jane Campion por Ataque dos Cães, em 2022, e a chinesa Chloé Zhao, em 2021, por Nomadland, sendo que este último venceu também como melhor filme.
Anima Mundi
Uma das categorias do Oscar que mais vem se abrindo para o que é produzido fora dos Estados Unidos é a da Animação, que já indicou, inclusive, uma produção brasileira, O Menino e o Mundo, de Alê Abreu, em 2016.
Dos cinco indicados como melhor animação, três são produzidos fora dos Estados Unidos, ou seja, tem origem internacional: Nimona, do Reino Unido; O Menino e a Garça, do Japão, um país que sempre emplaca filmes nesta categoria; e Meu Amigo Robô, que tem produção da França e da Espanha.
Melhor Termômetro: os Prêmios dos Sindicatos
Na temporada de premiações, faltam ainda os prêmios dos Sindicatos (PGA, dos produtores; DGA, dos diretores; e o SAG, dos atores, entre outros) e o BAFTA, prêmio da indústria de cinema da Inglaterra. Mas ainda são os indicados e premiados dos sindicatos das diversas categorias do Oscar, o melhor termômetro não somente para saber quem poderá concorrer, mas principalmente quem sairá em 10 de março com sua tão desejada estatueta.
Dos dez concorrentes ao Oscar de melhor filme deste ano, todos já tinham sido indicados ao PGA, Producers Guild of America, o prêmio do sindicato produtores deste ano, que chega a sua 35a edição, ou seja, não houve nenhuma surpresa em relação aos indicados ao Oscar (ver lista no final da matéria).
Mesmo que o prêmio da PGA não tenha ainda sido conhecido, dificilmente o prêmio de melhor filme do Oscar não seja entregue a Oppenheimer, que leva vantagem em relação ao segundo mais cotado, Assassinos da Lua das Flores, sendo que os outros oito indicados ao Oscar não tem quase nenhuma chance.
Dos cinco concorrentes ao Oscar de melhor direção, três já tinham recebido indicação ao DGA (Directors Guild of America), em sua 76a edição, já que Greta Gerwig e Alexander Payne foram preteridos respectivamente por Justine Triet e Jonathan Glazer.
Sendo assim, dificilmente alguém tira a estatueta de Christopher Nolan. Não que seja o seu melhor filme, Oppenheimer, mas ganhará pela carreira, algo que Martin Scorsese, seu maior concorrente este ano, já tinha experimentando quando venceu como melhor diretor por um trabalho menor em Os Infiltrados, de 2007. Mas mesmo que perca para Nolan, Martin Scorsese já fez história como o diretor que mais recebeu indicações ao Oscar, dez no total, enquanto, Steven Spielberg tem nove indicações, mas venceu em duas ocasiões.
Quando se olha para os indicados ao Oscar de atuação nas quatro categorias (principal e coadjuvante) em relação aos indicados aos prêmios do Sindicato dos Atores, SAG, o acerto é grande. Na categoria de melhor ator, todos os cinco indicados ao Oscar já estão concorrendo na categoria do SAG. Em relação às mulheres, a única mudança é a inclusão da atriz Sandra Hüller de Anatomia de uma Queda no lugar de Margot Robbie por Barbie, o que foi mais que justo, sendo o trabalho de Hüller bastante superior o da Margot Robbie.
Quando a gente compara as indicações do Oscar com a do Sindicato dos Atores (SAG), as mudanças são de apenas um ator e de uma atriz nas categorias de coadjuvantes. Em relação aos homens, o sempre ótimo Willem Defoe, de Pobres Criaturas, perdeu a vaga do Oscar para um companheiro de filme, o também ótimo Mark Ruffalo. Já em atriz coadjuvante, Penélope Cruz, que concorre ao SAG pelo trabalho no insosso filme Ferrari, perdeu a vaga para America Ferrera por Barbie.
Em relação a melhor atuação nas quatro categorias do Oscar, uma coisa é liquida e certa, ninguém tira o prêmio de melhor atriz coadjuvante para Da'Vine Joy Randolph, por Os Rejeitados. Ela simplesmente ganhou todos os prêmios da temporada, tanto dos críticos quanto dos jornalistas. Em relação aos atores coadjuvantes, uma categoria que reserva sempre alguma surpresa, o prêmio ficará entre Robert Downey Jr. por Oppenheimer, o que tem mais chances, ou Robert De Niro, excepcional, assim como Leonardo DiCaprio, um dos injustiçados do Oscar deste ano, em Assassinos da Lua das Flores.
Em relação as atuações principais, tanto masculina quanto feminina, o Oscar já está esquentando nas mãos de Paul Giamatti, o mais merecedor de todos os atores e atrizes que concorrem este ano, ou de Cillian Murphy, pelo trabalho protocolar ainda que eficiente em Oppenheimer. Quando se olha para a categoria de atriz principal, a mais aberta das quatro, o prêmio tende para Lily Gladstone, por Assassino da Lua das Flores, não por merecimento, ainda mais que ela é coadjuvante na história, ou Emma Stone, por Pobres Criaturas.
Mas podemos ter surpresas como a vitória, mesmo que improvável, de Carey Mulligan, ótima em Maestro, ou Annette Bening, por Nyad, venceria, assim como o diretor Christopher Nolan, pelo que fez na carreira. Mas também não seria nenhuma injustiça se a excepcional atriz Sandra Hüller vencesse por Anatomia de uma Queda, numa demonstração que o Oscar de fato está olhando para o que o mundo produz de melhor no cinema.
Mas vamos esperar os prêmios dos Sindicatos das diversas categorias e a grande festa do Oscar em 10 de março de 2024 para saber quem tem mais chances e quem de fato levará para casa a tão sonhada estatueta do Oscar.
QUADRO DE INDICAÇÕES DO OSCAR 2024
13 indicações – Oppenheimer
11 indicações – Pobres Criaturas
10 indicações – Assassinos da Lua das Flores
8 indicações – Barbie
7 indicações – Maestro
5 indicações – Anatomia de uma Queda
5 indicações – Os Rejeitados
5 indicações – Zona de Interesse
3 indicações – Napoleão
2 indicações – A Sociedade da Neve
2 indicações – Missão: Impossível 7
2 indicações – Nyad
2 indicações – Resistência
2 indicações – Vidas Passadas
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