A produtora Alumbramento surgiu há 11 anos, no Ceará, com uma proposta definida: levar ao cinema brasileiro filmes regionais de verve provocativa e que evocassem todos os experimentalismos que seus realizadores desejassem. E deu muito certo. Foram 13 longas repletos de bons momentos e sucesso de crítica, que quase sempre aprovou as ousadias narrativas e visuais do coletivo. Porém, agora é hora de dar um ponto final: a Alumbramento se despede com o filme O Último Trago, lançado nos cinemas em março.
O longa-metragem, dirigido pelo trio Luiz Pretti, Ricardo Pretti e Pedro Diógenes, acompanha a história do espírito de uma indígena que volta para assombrar pessoas e mostrar que há situações não resolvidas. "O Último Trago surgiu, em 2010, com a ideia de fazer um filme sobre política", conta Pedro Diógenes, diretor do longa, ao Esquina. "Sendo assim, já sabíamos que não dava para usar uma linguagem tradicional, careta. Pra tocar nesse tema, o meio de contar a história também precisava ser contaminado."
Na época que a ideia surgiu, a Alumbramento estava em seu quinto filme -- a maioria deles feito na base da 'guerrilha", sem orçamento. No entanto, O Último Trago foi totalmente diferente. A ideia do roteiro, por exemplo, veio de uma provocação da produtora Vânia Catani, da Bananeira Filmes. E ela injetou algumas coisas na produção que não eram comum no coletivo cearense. "A gente tinha tempo pra pensar, fizemos mais de 50 testes com atores. Formamos quase um dream team", disse Diógenes, orgulhoso do resultado. "Foi uma maneira totalmente atípica da gente trabalhar."
Dessa maneira, o filme acabou levando cinco anos para ser filmado e nove para ser lançado. A demora, porém, não incomodou Pedro ou os outros diretores. Afinal, O Último Trago é uma produção mais pomposa e fecha com chave de ouro o ciclo da Alumbramento. Além disso, segundo o cineasta, ele se tornou mais atual e relevante com o passar do tempo. "O filme trata do passado mal resolvido que assombra o presente", explica. "É importante, no cenário político de hoje, entendermo quem somos -- o Pais mais escravocrata e genocida, o que triturou populações. Precisamos lembrar."
E apesar do fim da Alumbramento e do cenário político adverso, Pedro vê o futuro com positividade. "Apesar do fim da Alumbramento, continuamos produzindo, filmando, trabalhando", conta. "Cinema é a nossa paixão e vamos continuar fazendo mesmo com essas dificuldades de agora, com esse governo que preza pela burrice e não pela inteligência. Esse meio vai sofrer muito e o futuro é incerto. Mas ainda farei cinema."
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