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Foto do escritorMatheus Mans

Ainda que exagerada, segunda parte de 'La Casa de Papel' emociona


* Este texto contém spoilers da primeira temporada de 'La Casa de Papel'. Se não viu essa parte ainda, leia esse texto.

Sim, eu sei. A produção espanhola La Casa de Papel tem uma quantidade absurda de plot twists, coincidências demais e um roteiro que vai se ajustando para criar um cenário que agrade a audiência sem preocupações com a realidade -- como esta ótima reportagem da revista Superinteressante apontou. Mas nada disso importa. Afinal, La Casa de Papel tem uma das histórias mais viciantes da televisão dos últimos tempos e um final que agrada e emociona.

A primeira parte da produção, liberada pela Netflix ainda em 2017, foi um sucesso enorme de público. A segunda parte, que chegou na última sexta-feira, 6, ao serviço de streaming, veio rodeada de expectativas. Afinal, o roubo à Casa da Moeda com Berlim (Pedro Alonso), Tóquio (Úrsula Corberó), Moscou (Paco Tous), Nairóbi (Alba Flores), Denver (Jaime Lorente), Rio (Miguel Herrán) e Helsinque (Darko Peric) estava à toda enquanto o esperto Professor (Álvaro Morte) se via cada vez mais preso num romance com a investigadora Raquel (Itziar Ituño).

A segunda parte de La Casa de Papel, então, chega para amarrar todas essas situações e pôr um ponto final no assalto que dura 24 episódios -- num total médio de 1 mil minutos. Para segurar essa parte final, a roteirista Esther Martínez Lobato, responsável pela grande maioria dos episódios, faz acrobacias. Mais do que a primeira parte, os plot twists chegam de todos os lados, de todas as partes. São usadas fantasias de palhaços, motos voadoras e recuperações fantásticas. E há um punhado de coincidências que não descem, dificultando imergir.

No entanto, como disse no começo, isso acaba por ser subjugado pelo ritmo alucinante da trama e pelos fortes laços que a audiência cria com os personagens. Ainda que Tóquio e o Professor passem a ser odiáveis nessa segunda parte, Berlin, Moscou e, principalmente, a subestimada Nairóbi ganham força -- esta última, aliás, tem uma frase que deverá ganhar status de pop em breve. O refém Arturito (Enrique Arce) continua chatíssimo, como é para ser, e a investigadora Raquel Murillo ganha mais camadas, tornando-a uma personagem mais interessante.

Nem os romances forçados entre a inspetora e o Professor, entre Denver e Mônica (Esther Acebo) e entre Rio e Tóquio tiram a força da produção -- este último, aliás, para de ser tão forçado para ser odiável.

E assim, com personagens interessantes e carismáticos e os plot twists sem fim, se torna impossível a tarefa de sair de frente à TV ou abandonar a série no meio. Após tanto tempo, ânsia de saber a conclusão do assalto é maior do que quaisquer erros que a série poderia cometer -- e que comete. E a cena final... Que cena! É emocionante, tira o fôlego e deixa o espectador tenso do começo ao fim. É triste, é alegre, é empolgante, é emocionante. Tudo num momento só.

Pena, no entanto, que os roteirista se deixaram levar e fizeram uma conclusão final besta e muito brega. Tira um pouco da força da produção como um todo, mas ainda deixa La Casa de Papel num panteão de séries recentes. Comete erros? Muitos. É perfeita? De jeito algum. Mas é muito boa e vale a maratona.

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