O Espaço Itaú de Cinema inicia as comemorações dos 25 anos de existência com um presentão para os fãs de cinema: a estreia antecipada de filmes que almejam disputar uma vaga na grande festa de premiação do Oscar -- os candidatos serão conhecidos no dia 23 de janeiro e noite do maior prêmio do cinema será em 4 de março. Serão exibidos oito fortes concorrentes a disputar os principais prêmios: Me Chame Pelo Seu Nome, Artista do Desastre, Ella e John, Loveless – Sem Amor, The Post – A Guerra Secreta, Três Anúncios Para um Crime, Eu, Tonya e A Forma da Água.
O primeiro filme -- exibido nesta quarta, 17, sempre às 21h30, no Espaço Itaú de Cinema da Augusta -- será Me Chame Pelo Seu Nome (Call Me By Your Name), de Luca Guadagnino, que arrebatou plateias do mundo inteiro e vem colecionando elogios e prêmios da crítica. O longa é sobre a história de Ellio (Timothée Chalamet, certeiro na disputa de melhor ator) que vai passar uma temporada de férias na residência de sua família no interior da Itália. O pai do adolescente, vivido pelo ator Michael Stuhlbarg, é um intelectual, especializado em cultura grego-romana, que está fazendo uma pesquisa. Ele chama Oliver (Arnie Hammer) para ajudá-lo nesse trabalho acadêmico. É nesse período de férias para o jovem Ellio e de trabalho de Oliver que eles irão se aproximar afetuosamente.
O filme é muito mais que um “drama gay” como parte dos críticos rotularam. É um filme sobre descobertas da juventude, história de amadurecimento e o desejo que aflora de forma incontrolável. Solar e sóbrio, a direção do diretor ganha camadas e contornos com os precisos desempenhos dos três atores (Chamalet, Stuhlbarg e Hammer). Confira a nossa crítica completa AQUI.
Na quinta, 18, passará Ella e John (The Leisure Seeker), um divertido road movie na velhice do diretor italiano Paolo Virzi. Ella (Helen Mirren) decide fazer uma viagem nos Estados Unidos com o marido (Donald Sutherland), que sofre de Alzheimer, para conhecer, dentre outras coisas, a casa que pertenceu ao escritor Ernest Hemingway (do clássico O Velho e o Mar). Enquanto Ella é mandona e falante, o marido é contido e intelectual. O filme tira sarro de alguns lugares comuns impostos aos velhos nesses difíceis “tempos modernos”, conseguindo ser reflexivo, engraçado e comovente ao mesmo tempo. Belos desempenhos desses dois grandes atores.
Na sexta, 19, será a vez da comédia Artista do Desastre (The Disaster Artist) que James Franco produziu, atuou e dirigiu. O ator, que ganhou o Globo de Ouro, pode ser prejudicado na disputa a uma vaga ao Oscar pelo tsunami dos escândalos envolvendo assédio na indústria de entretenimento nos Estados Unidos -- ele foi acusado de assédio por colegas de trabalho recentemente. O longa é um retrato cômico de The Room, filme do cineasta Tommy Wiseau que era para ser reflexivo e sério, mas se tornou uma grande piada em Hollywood. O filme dentro do filme mostra os bastidores hilariantes das filmagens desse “épico do desastre”.
O mais forte candidato aos principais prêmios do Oscar deste ano, A Forma da Água (The Shape of Water), de Guillermo del Toro, será exibido no sábado, 20. Mais uma fábula desse grande diretor mexicano, que, assim como seus dois outros compatriotas Alejandro González Iñárritu e Alfonso Cuáron, poderá ganhar a cobiçada estatueta de direção do Oscar -- o único empecilho para o feito se chama Greta Gerwig, diretora de Lady Bird: É Hora de Voar.
A história de A Forma da Água acontece nos anos 1960, em plena Guerra Fria entre Estados Unidos e União Soviética. Uma base secreta do governo recebe em seu laboratório uma criatura vinda dos confins da América do Sul. Nesse laboratório trabalha a faxineira muda Eliza Espolito (Sally Hawkins, que faz um trabalho de encher os olhos de comoção e ternura). Ela, que também se sente inadequada no mundo, assim como aquela criatura, criará fortes vínculos de afeto com ela. Mas governo dos EUA decide usar a criatura para a corrida espacial em voga naquele momento. Eliza, com a ajuda do amigo Giles (Richard Jenkins) e da companheira de trabalho Zelda (Octavia Spencer), tentará salvá-la do triste destino, mas terão que driblar o policial sádico e moralista Strickland (Michael Shannon).
O melhor filme da safra do pré-Oscar, pelo apuro de sua narrativa exemplar, sua maneira lúdica de contemplar a história e seus personagens, com imagens deslumbrantes e desempenhos dos atores em estado de graça, principalmente de Sally Hawkins, que já deveria ter levado para casa um Oscar por Blue Jasmine, de Woody Allen.
No domingo, 21, é a vez de Loveless – Sem Amor (Nelyubov) do diretor russo Andrey Zvyagintrev, um dos candidatos a uma das cinco vagas de filme estrangeiro do Oscar (são nove filmes pré-selecionados). Em Loveless, o diretor, assim como no seu filme anterior Leviatã, aproveita a história do desaparecimento do filho do casal Zhenya (Maryana Spivak) e Boris (Aleksey Rozin), um menino de 12 anos, para fazer um retrato crítico e mordaz da sociedade russa atual, tragada pelo consumismo e com seus valores morais frágeis na Era do “Pavão Misterioso” Putin.
Um filme seco, duro e preciso, que foge do dramalhão para expor a vida de um casal em fim de relacionamento, perdidos pelo inesperado acontecimento do sumiço do filho, que vira de uma hora para outra um empecilho em suas preocupações individuais, já vislumbrando uma vida feliz longe um do outro.
Na segunda, 22, o filme exibido é Eu, Tonya (I, Tonya), cinebiografia sarcástica e politicamente incorreta da patinadora artística americana Tonya Harding (Margot Robbie) que participou de duas olimpíadas e entrou numa gelada -- literalmente -- ao se envolver com o marido (Sebastian Stan) e com um amigo dele (Paul Walter Hauser) no ataque a uma colega de patinação, Nancy Kenigan. De queridinha dos Estados Unidos, ela vira uma vilã do Tio Sam e uma grande piada mediática, depois que descobrem quem estava por trás desse plano desastroso.
O diretor constrói seu filme de acordo com a reprodução dos depoimentos dos envolvidos na história, inclusive da mãe da Tonya, LaVona Golden, vivida de forma magistral pela comediante Allison Janney (que deve levar o Oscar de atriz coadjuvante para casa), com sua veia sarcástica e de humor negro. O filme fala do difícil relacionamento de uma mãe opressora que passa por cima de tudo para ver a filha virar uma patinadora de sucesso, inclusive dela própria, numa América seduzida cegamente pelos holofotes. Eu, Tonya é um triste e “hilariante” retrato de um País obcecado pelo espetáculo das tragédias e pelo sucesso a todo custo, doa a quem doer.
O novo filme de Steven Spielberg, The Post – A Guerra Secreta (The Post), que passa na terça, 23, é sobre como a imprensa lida com o poder do governo, ou melhor, como se trava um embate entre duas forças de poder da sociedade, a mídia e o governo, ou seja, a tão difícil e de alguma maneira utópica “Liberdade de Imprensa”.
A história acontece em 1971, quando alguns documentos sigilosos do pentágono “Pentagon Papers” vão parar na imprensa. O jornal New York Times começa a publicá-los, mas recebe uma ordem judicial para parar de divulgá-los, o que ele faz. Aí entra o Washington Post que decide continuar a divulgação dos documentos. No comando do jornal está Katharine Graham (Meryl Streep em outro grande desempenho), uma mulher insegura com seu cargo de chefe de um dos mais importantes jornais dos Estados Unidos. Mas ela já tinha demonstrado personalidade ao contratar Ben Bradlee (Tom Hanks) para o cargo de editor-executivo do jornal, quando poucos acreditavam nele.
Katharine, então, terá que provar que pode tomar as decisões sozinhas e conta com o apoio de Ben. O filme se concentra, de forma acertada, nas duas semanas de junho de 1971, quando se trava o duelo judicial entre o Governo de Nixon e o jornal.
É um filme sobre os ideais de liberdade de imprensa, e Spielberg o faz com sobriedade e experiência, ajudado pela bela fotografia do seu mais importante colaborador Janusz Kaminski, com seus tons acinzentados e escuros da redação do The Washington Post nos anos 1970.
A maratona dos filmes pré-Oscar acaba na quarta, 24, com um dos filmes mais criativos e sarcástico dessa safra, Três Anúncios para um Crime (Three Billboards Outside Ebbing, Missouri) de Martin McDonagh. O tom de humor negro, que fica entre o drama e cenas desconcertantes e “engraçadas”, que o diretor encontrou no seu filme só foi possível graças a trinca dos atores principais (Frances McDormand, Woody Harrelson e Sam Rockwell).
A sempre talentosa Frances McDormand faz Mildred Hayes, uma mãe do Missouri que perdeu sua filha num assassinato brutal nunca solucionado pela polícia local. Numa belo dia, ela resolve alugar três outdoors numa estrada quase abandonada para denunciar a falta de desempenho da polícia local, que atende pelo nome do xerife Bill Willoughby (Woody Harrelson), que passa a ter uma dor de cabeça extra, além de um câncer terminal que abreviará sua vida. Mildred começa a atanazar todos que trabalham com o delegado Bill, inclusive um instável e imaturo policial Jason Dixon (Sam Rockwell, num grande desempenho), que escapa de um atentado que ela faz na delegacia. A cidade vira contra Mildred depois que o xerife Bill se mata.
A eficácia do filme, além da entrega total dos seus atores, é não cair no drama de uma mãe atrás de justiça para o assassino de sua filha e na resolução da identidade do culpado, preferindo se concentrar no tom de humor negro, hilário e desconcertante, que algumas vezes pode soar exagerado e caricato, mas que não nunca chega a isso.
Agenda
O quê? Pré-estreia dos prováveis indicados ao Oscar.
Quando? Entre os dias 17 e 24 de janeiro.
Onde? No Espaço Itaú de Cinema, localizado na Rua Augusta, 1475
Que horas? Sempre às 21h30
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