Em 1961, a filósofa Hannah Arendt viajou até Israel para cobrir, como repórter da revista americana The New York, o julgamento de Adolf Eichmann, acusado de crimes de guerra contra o povo judeu durante o “reinado de terror” de Adolf Hitler. No julgamento, Hannah percebeu que a figura do Eichmann representava o “homem comum” da sociedade. Afinal, diante dos crimes hediondos que cometeu, não refletia sobre os seus atos, alegando apenas que obedeceu às ordens estabelecidas pela política do Terceiro Reich.
A série de reportagens resultou no livro Eichmann em Jerusalém – Um relato sobre a banalidade do mal, lançado em 1963, em que aparece o conceito filosófico sobre o que significava o mal radical, o mal absoluto e a banalidade do mal. Hannah constatou que aquele homem comum, um burocrata da polícia política de Hitler, estava longe de um monstro, um mal absoluto. Para Hannah, Eichmann, diante da presteza em obedecer cegamente suas funções, se tornava um pessoa incapaz de exercer a capacidade de pensar sobre seus atos.
Já a peça Os Guardas do Taj, de autoria de Rajiv Joseph, discute um dos conceitos filosóficos mais complexos do século XX: a Banalidade do Mal, de Hannah Arendt. Para isso, a peça conta a história de dois guardas comuns do Taj Mahal, na Índia, que se veem diante da obrigação de cortar as mãos dos 20 mil operários que trabalham na construção do palácio -- a mando do Imperador, é claro.
Os atores Reynaldo Gianecchini (Humayun) e Ricardo Tozzi (Babur) interpretam esses dois amigos de infância, que agora têm que cumprir essa tarefa tão desumana e impensável. Enquanto Humayun não questiona a ordem do imperador, enxergando-a como mais uma das suas obrigações que realiza para o monarca, Babur constata a insanidade daquela função, propondo fugirem ou matarem o imperador. As maneiras diferentes que eles enxergam a ordem irão deflagrar os seus destinos.
Os dois atores se esforçam em dar densidade aos seus personagens, mas são prejudicados pela adaptação do texto de Rajiv Joseph, feita por Rafael Primot, que também dirige o espetáculo com João Fonseca. Primot se rende ao uso excessivo de coloquialismo, na adaptação do texto de Joseph, que resvala em frases chulas e constrangedoras. Diante delas, os personagens de Gianecchini e Tozzi não conseguem sair da superficialidade, prejudicando a potencialidade dos questionamentos que o texto do autor aborda, como, por exemplo, as escolhas que fazemos na vida, o sentido da beleza, da amizade e como se posicionar diante das ordens do poder estabelecido.
Serviços:
O quê? Os Guardas do Taj
Onde? Teatro Raul Cortez (513 lugares)
Rua Dr. Plínio Barreto, 285 – Bela Vista – São Paulo/SP
Quando? Sexta e sábado, às 21h. Domingo, às 18h
Quanto custa? Preços: Sexta (R$ 60), sábado (R$ 80) e domingo (R$ 70)
Quanto tempo? 75 minutos
Recomendação: 12 anos
Temporada: Até 25 de março
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