Mesmo antes de se apresentar ao lado do cantor e produtor Robertinho do Recife no Brasil, em 2012, durante a Virada Cultural, em São Paulo, o bluesman Jesse Robinson, 74, já o conhecia. "A parceria com Robertinho começou antes da Virada Cultural, com o trabalho do Robertinho de Recife nos EUA. Ele se apresentou no clube 119 Underground em 2010 e ficamos grandes amigos”, conta por e-mail ao Esquina o artista, antes dos três shows que fará em São Paulo no Sesc de Santos, 3, no do Belenzinho, em São Paulo, 4, e em Ribeirão Preto, 9.
O contato e a amizade com o cantor e produtor brasileiro renderam alguns projetos. Primeiro, o convite para tocar num disco que Robertinho do Recife estava produzindo para Zé Ramalho. Depois, o convite para participar do projeto Dois Rios, que resultou no intercâmbio entre músicos brasileiros e americanos. Aí veio a apresentação em São Paulo, em 2012, e, agora, o disco Stray Star, que Robertinho do Recife produziu.
Nesse seu terceiro álbum de estúdio, Jesse Robinson fez as melodias de alguns poemas do músico baiano Assunção de Maria, vertidos para o inglês por Carl Kolb. “A ideia começou com Assunção de Maria e Robertinho. Eles me convidaram para fazer músicas, trazendo o que eu sou para a mesa. Eu sou de Mississippi a vida inteira eu só sei me expressar em inglês”, explica o artista.
Nascido em Benton, Mississipi, em 1944, e criado em Mileston, Jesse Robinson começou a tocar violão aos seis anos, incentivado pelo pai, que era pregador de uma igreja pentecostal. Começou na carreira ainda jovem, no início dos anos 1960.
Hoje, aos 74 anos, com mais de 50 de carreira, o artista, que nasceu no berço do blues, no Delta Mississipi, tocou com grandes nomes da música americana como: Cassandra Wilson, Buddy Guy, Bobby Rush, Elmore James, Little Milton entre outros. Mas o encontro artístico definitivo foi com a lenda B.B. King (1921-2015 ). “Na minha carreira trabalhei com muitos artista excepcionais, mas com quem trabalhei mais foi B.B. King. Ele. se tornou um dos amigos mais chegados de minha vida. Fizemos muita coisa juntos. Ele sempre me dizia: 'Não esqueça de onde você veio, para entender o Blues você tem que viver o Blues'", revela.
Além da carreira solo, o artista ainda é leader do grupo BB KING BAND, desde a morte de B.B. King. Mas ele diz que não abre mão das parcerias que faz com outros grupos e artistas, como foi com Robertinho do Recife e com alguns músicos brasileiros.
Segue abaixo só as perguntas que Jesse Robinson respondeu para o Esquina, pois ele, segundo sua assessoria, não responde nada relacionada a política. “O Jesse Robinson não responde perguntas sobre política, portanto não há respostas sobre esse assunto”. Mas além de não responder o que achava do governo de Donald Trump, ele também não quis falar sobre o que achava da música brasileira, da supremacia do rap na música mundial e da apologia do gênero a ostentação e ao sexo, sobre o que representa o Blues hoje e da importância de William Christopher Handy, W.C. Handy, considerado o “Father of the Blues”..
Esquina da Cultura :A primeira vez que você fez show no Brasil foi durante a Virada Cultural de São Paulo, em 2012, quando se apresentou ao lado de Robertinho do Recife. Quais as lembranças que você guarda dessa apresentação. Foi daí que nasceu a parceria com ele, que resultou nesse seu terceiro álbum de estúdio Stray Star, que ele produziu?
Jesse Robinson: O que lembro mais foi da energia e o coração aberto do povo brasileiro. Me deu grande alegria ver o público gostando da música de Mississippi. Minha vida é a estória do Blues. Me senti acolhido pelo povo que estava assistindo. A parceria com Robertinho começou antes da Virada Cultura, com o trabalho do Robertinho de Recife nos EUA. Ele se apresentou no clube 119 Underground em 2010 e ficamos grandes amigos, daí ele me convidou para tocar num disco de Zé Ramalho que ele estava produzindo, e então me convenceu em fazer um intercâmbio com as músicas das duas culturas surgiu então o projeto Dois Rios. Rio São Francisco e o Rio Mississippi com vários artistas. Robertinho de Recife continua construindo esta ponte artística entre as duas culturas .
Esquina: De quem foi a ideia de usar poemas do músico baiano Assunção de Maria para as composições do seu álbum Stray Star. As letras dos poemas de Assunção de Maria foram vertidas para o inglês por Carl Kolb e musicadas por você. Por que você não gravou nenhuma música em português. Foi difícil fazer as melodias para os poemas de Assunção de Maria?
JR: A ideia começou com Assunção de Maria e Robertinho. Eles me convidaram para fazer músicas, trazendo o que eu sou para a mesa. Eu sou de Mississippi a vida inteira eu só sei me expressar em inglês. A ideia poética e produção são brasileiras, fazendo a música e cantando inglês é a contribuição americana.
Esquina: O álbum foi gravado nos estúdios no Rio de Janeiro em Mississipi, nos Estados Unidos, com músicos brasileiros e norte-americanos. Como foi essa troca de experiências?
JR: Quando pedi Robertinho para produzir meu CD Stray Star, o projeto Dois Rios já estava bem avançado. Foi assim que consegui gravar em dois países com músicos brasileiros e americanos. Acho que foi o gênio do Robertinho que conseguiu esse sucesso. Música é uma linguagem universal, mas para um produtor conseguir juntar músicos de países diferentes trabalhando com poesia daqui e música de lá, tem que ter muita competência, por isso considero ele um gênio.
Esquina: Você que começou sua carreira no início dos anos 1960, e já trabalhou com músicos como: Little Milton, Bobby Rush, Buddy Guy, Elmore James, entre outros. Qual o balanço que você faz desses mais de 50 anos de carreira? Quem do mundo do Blues e do Jazz que você gostaria de ter trabalhado?
JR: Na minha carreira trabalhei com muitos artista excepcionais, quem trabalhei mais foi B.B. King. B.B. se tornou um dos amigos mais chegados de minha vida. Fizemos muita coisa juntos. Ele sempre me dizia: “Não esqueça de onde você veio, para entender o Blues você tem que viver o Blues”. Quanto as dificuldades... Foi fácil e difícil ao mesmo tempo. Uma pessoa que gostaria de colaborar no futuro é George Benson. Tenho planos de trabalhar com ele.
Esquina: Além de sua carreira solo de cantor, você trabalha na BB King Band, como guitarrista e vocalista.
JR: Sobre minha participação com o grupo BB KING BAND, quando B. B. (King) deixou esse mundo foi natural para mim continuar o trabalho dele como leader da banda, mas, minha carreira individual continua, como sempre, apesar de fazer participações com outros parceiros, por isso estou aqui no Brasil.
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