Até agora, o clube de assinatura literário TAG Inéditos não conseguiu se acertar. O primeiro envio, A Boa Filha, foi um desastre. O segundo, Stalker, elevou o nível, mas não conseguiu trazer o entusiasmo necessário. Agora, o terceiro envio volta a decepcionar. A Vendedora de Livros é original, inventivo e entusiasmado. Mas se perde em erros primários.
A trama, escrita pela estreante Cynthia Swanson, é interessante: dividida entre sonho e realidade, Kitty Miller vive duas vidas. Em uma, que acredita ser a realidade, ela é solteira e dona de uma livraria de rua que está passando por um processo difícil, já que os shoppings estão chegando com força total. Na outra, é casada, dona de casa e com três filhos.
A partir desse entrelaçamento de histórias, Swanson consegue criar uma interessante dualidade entre as narrativas. Ainda que uma das vidas seja pintada como realidade, há elementos oníricos em sua criação que causam estranheza. Na que é descrita como sonho, enquanto isso, são várias as percepções que tentam trazer a personagem para a vida real.
A difícil dinâmica vivida por Kitty -- que deverá ser interpretada por Julia Roberts em um filme vindouro -- também convence. Ainda que os personagens que a cercam sejam extremamente planos e sem quaisquer desenvolvimentos, a protagonista consegue concentrar a atenção e levar a narrativa nas costas. É profunda, interessante e muito bem construída.
No entanto, não é só de um bom argumento que se estrutura um livro. A Vendedora de Livros exagera em suas 380 páginas e vai além do que deveria. A obra deveria ser contada em 200 páginas, no máximo. Esse excesso acaba deixando vários problemas de narrativa transparecer. O primeiro é o uso recorrente de clichês, batidos e sem propósito na trama.
O pior, porém, é que muitos deles se mostram como sendo a base da história -- algo que só é tirado debaixo do pano por causa de um exagero a mais. Deixa a história frágil e sem graça.
E também há um problema de direcionamento. Como já dito, os personagens secundários são rasos, sem camadas. Isso torna a narrativa exageradamente vazia. A sensação é de que as 380 páginas poderiam ser resumidas à 50. E pior: há, também, a sensação de que grande parte do esforço narrativo poderia ter sido convertido para algo realmente proveitoso. Pra quê tantas descrições de roupas? Fale mais dos seus personagens!
Nem mesmo o plot twist final consegue surpreender. Na metade da história, já estava claro o que iria acontecer. Novamente, erro causado pelo exagero e prolongamento da trama.
A Vendedora de Livros tem elementos originais, entusiasmantes, inventivos. Não é à toa que parte do livro causa a sensação de que temos uma boa história em mãos. Mas isso se perde quando Cynthia Swanson não sabe pisar no freio e eleva a trama para algo além do necessário. Uma pena. Mas vale ficar de olho na autora. Há potencial no futuro.
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