“Polícia Federal: A Lei é para Todos não é um filme político. Não temos vilões, nem heróis”, apressa-se em afirmar Marcelo Antunez, diretor do longa-metragem sobre a Lava Jato em entrevista concedida nesta quarta-feira, 30, em São Paulo. O argumento do cineasta é a tentativa da produção em dissociar o filme de qualquer movimento político que possa, de algum modo, atrapalhar a bilheteria e impedir que o filme recupere os R$ 16 milhões de investimento.
Na história, que promete ser a primeira de uma trilogia, os roteiristas Thomas Stavros e Gustavo Lipsztein (ambos da série 1 Contra Todos) reverteram a ótica sobre a operação da Polícia Federal e contaram a história da investigação desde seu embrião nas salas do órgão público. No centro da trama, Antonio Calloni, Flávia Alessandra e Bruce Gomlevsky se tornam sintetizações de vários envolvidos na Operação -- com ampla licença poética sobre suas ações.
De acordo com Antunez e o produtor Tomislav Blazic (Vestido para Casar), a história deste primeiro filme evoluiu junto com a operação. “Era para ser um filme sobre tráfico de drogas e a ação da Polícia Federal sobre isso. Uma coisa bem policialesca”, afirma o cineasta. “A Lava Jato, porém, é cinematográfica por natureza. Acredito que este filme é uma grande oportunidade do Brasil fazer um thriller político”, finaliza Antunes, entusiasmado com a sua produção.
Ao mudar o rumo da história, porém, o filme entrou numa seara perigosa. O longa precisou se blindar de eventuais críticas sobre posições políticas. Primeiro, desistiu de pegar dinheiro público por meio de leis de incentivo e partiu pro financiamento privado. No final, conseguiu captar R$ 16 milhões para a produção e uma dor de cabeça: não pode revelar as empresas por trás do valor. “Acabamos ficando mais presos ainda”, brinca o diretor, ao comparar com os incentivos do governo.
Além disso, o filme se justifica a todo momento sobre as suas intenções políticas -- como poderá ser visto na crítica do Esquina, a ser publicada na próxima semana. Diálogos e situações sugerem que trama e produção são imparciais, sem ligações com linhas políticas. Tem delegado que diz ter votado no PT, outro que não mostra qualquer emoção. E Antunes, pronto para enfrentar quem diz que seu filme é conservador, não pensa duas vezes antes de disparar que sempre “foi de esquerda”.
Se o público vai comprar a idoneidade da história, só saberemos quando a produção estrear em 7 de setembro. Elenco e produção, porém, estão confiantes. Flávia Alessandra não deixou de repetir como gostou de humanizar a sua personagem, assim como Bruce disse ter entendido o lado humano da Polícia Federal. E o diretor não perdeu tempo ao repetir a fala de um de seus personagens: “quero ajudar o Brasil. Não podemos voltar ao estado vegetativo que estava. Precisamos gerar debate”.
Comentarios