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Bárbara Zago

A imaginação como ferramenta essencial no universo do horror


Há poucas semanas, tive a oportunidade de assistir uma das grandes promessas do universo do horror: Annabelle 2 - A Criação do Mal. Sou do tipo de pessoa que não dorme por noites, mas faz questão de assistir qualquer filme que seja, no mínimo, perturbador. Com a continuação de Annabelle não foi diferente. Não satisfeita, ainda fui assistir ao filme no cinema, cenário perfeito para amplificar qualquer tipo de ansiedade e até medo.

De maneira geral, o filme é ótimo. Muito bem executado e conseguiu com que eu passasse a noite em claro pensando naquela boneca. Mas o que mais chamou minha atenção no filme é o fato de o demônio, ou a entidade do mal, ser materializada. E isso, de algum jeito, fez com que meu medo diminuísse. E minha curiosidade do porquê disso aumentasse.

Para os que não estão familiarizados com o Universo de Horror criado por James Wan, Annabelle conta a história de uma boneca feita por Samuel Mullins, uma edição limitada, que é dada à uma garota justamente chamada Annabelle. Após a garota morrer de forma trágica, um espírito maligno convence seus pais de “entrar” na boneca, para que eles possam ter a filha por perto. A partir disso, descobrem que quem está preso no corpo da boneca é um demônio, e assim começa a história. Ainda que o primeiro e o segundo filme se diferenciem, principalmente, quanto ao caso, a história continua centrada na boneca e na entidade do mal dentro dela.

A continuação assusta mais que o longa anterior: começa com os famosos jumpscares, em que o espectador leva um susto, mas continua assistindo o filme naturalmente. Quando menos se espera, está completamente preso à história, sem conseguir piscar, de tão intenso. Até o momento, a única coisa que podemos ver é a boneca e especular sobre o demônio. Quando ele finalmente é materializado, assusta. Mas perde um pouco daquela emoção. Então, me perguntei o porquê e cheguei a uma possível conclusão: projeção.

É comum que filmes de terror psicológico prendam mais a atenção do público, e isso é totalmente lógico. Quando esse tipo de filme utiliza do método da sugestão, ou seja, não materializa algo e deixa que o próprio espectador imagine aquilo, ele acaba projetando no objeto seus próprios medos de maneira inconsciente. Quem começou falando a respeito do termo projeção foi Sigmund Freud, que o considerava como um mecanismo de defesa.

Por meio da vivência do imaginário, podemos nos preparar para situações caso um dia aconteçam na prática. Quando alguém projeta um medo inconsciente no objeto, que é exatamente o que acontece em filmes de terror, ele inevitavelmente torna-se mais angustiante.

Prova disso foi o próprio Slenderman, que até rendeu documentários recentemente. Em 2009, em um fórum de discussão na internet, Eric Knudsen criou esse personagem fictício. Ele costuma ser descrito com um homem extremamente magro e alto, com uma cabeça branca e sem rosto e que veste um terno preto.

O interessante é que esse personagem não limita-se à uma história apenas. De acordo com  angústias individuais, cada um projeta no personagem o próprio medo, revelando até aspectos de sua personalidade. Isso acontece justamente pelo fato de ser um objeto completamente maleável, sugestivo, em que o espectador enxerga o que quer nele.

Ainda que isso não esteja tão presente em histórias de terror, principalmente naqueles que são eventualmente adaptados para o cinema, um dos grandes clássicos do gênero já utilizou dessa técnica. No livro It: Uma Obra Prima do Medo, de Stephen King, apesar de ter o palhaço, que já amedronta o suficiente, as crianças que são atacadas por Pennywise são obrigadas a enfrentarem seus maiores medos. O novo filme, dirigido por Andrés Muschietti, mostra bem essa projeção; enquanto uma das crianças se depara com um quarto cheio de palhaços, outra é obrigada a ficar frente a frente com um leproso. A ideia é justamente focar nos medos individuais, a ponto de explorar o limite de cada um.

Apoiando-se nessa ideia de um medo sem sustos gratuitos, mas ainda assim perturbador, Steve Rose, crítico do The Guardian, batizou esse novo gênero de pós-terror. Essa nova safra é sustentada por filmes que cada vez mais se afastam dos clichês presentes em filmes de terror.

O mais conhecido recentemente foi A Bruxa, do americano Robert Eggers, e que conta a história de uma família no século XVII que acusa a filha mais velha pelo desaparecimento do seu irmão quando ainda era bebê. Aclamado pela crítica, inclusive elogiado pelo escritor Stephen King, o filme não dá susto algum, exceto pela aparição repentina de uma cabra, que pelo visto não assustou ninguém além de mim na sala de cinema. Mas o contexto te envolve. Faz com que você imagine além do que está sendo mostrado. É um filme que te faz pensar, coisa que não acontece na maioria dos filmes de terror.

Há quem concorde com o nome pós-terror e há quem abomine-o; de qualquer forma, é importante perceber a relevância que existe nos filmes do gênero quando se pensa no sugestivo. Não somente perturba mais os espectadores, como também proporciona uma experiência única para cada um que assistir. De acordo com a própria imaginação, e até uma ponta de inconsciente, cada indivíduo se permite assistir a um filme desses e, consequentemente, entendê-lo de maneira própria, da maneira que mais faça-lhe sentido.

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