ATENÇÃO: Não é fácil falar de política como num momento desse do Brasil. Por isso, ao contrário do que manda a cartilha, coloquei essa resenha sob meu ponto de vista.
De fato, não é fácil compreender ou explicar Jair Messias Bolsonaro. Dono de uma ignorância latente e uma completa falta de tino político, o presidente tem dado um show de vexames e absurdos com declarações fora de hora e, por vezes, autoritárias. Por isso, é com entusiasmo que encontrei o livro A Filosofia Explica Bolsonaro, do filósofo e youtuber Paulo Ghiraldelli Jr. No entanto, que decepção! Zero conteúdo, zero filosofia.
Ao longo de 174 páginas, Ghiraldelli divide sua análise -- e seus capítulos -- dentre os principais atores que compõe o circo de horrores que é o governo de Bolsonaro e a direita brasileira como um todo. Há um capítulo para o presidente, para os filhos, para o "guru" Olavo de Carvalho, para Damares Alves, para Ricardo Salles e até para o MBL. É uma salada de proto-fascistas que, num primeiro momento, anima a leitura da obra.
No entanto, conforme adentrei nas páginas editadas pela Leya, a decepção foi surgindo. A tal filosofia some. O que se vê são pequenos ensaios, muito pessoais, de Ghiraldelli sobre o governo. Há observações sobre tudo que tem tomado a presidência da república nos últimos meses e a filosofia, que é bom, nada. A Filosofia Explica Bolsonaro não passa do compilado banal de observações do autor sobre Bolsonaro e seus asseclas.
E algumas dessas observações, aliás, são bem exageradas ou fora de tom. Principalmente o capítulo dedicado à deputada Joice Hasselman. Não gosto da figura, desde seus tempos como jornalista. No entanto, Ghiraldelli insiste em falar repetidamente sobre como ela se posta como uma figura erótica, quase pornográfica. Fala sobre seus seios fartos (?). É um monte de bobagem e quase nada útil de fato.
A filosofia em si, prometida no título, é encontrada de fato em dois capítulos: na introdução, na qual Ghiraldelli faz uma interessante explicação sobre o capitalismo que vivemos hoje -- se quiser saber mais, querido leitor, veja o documentário Dedo na Ferida. E numa conclusão chamada de Excurso. Nesta parte, a filosofia e a teoria transbordam. Oras, pra que serviu o resto do livro? Era isso que estava esperando!
A Filosofia Explica Bolsonaro, no final, serve para exemplificar os motivos da esquerda não estar conseguindo contornar esse governo que armas as próprias arapucas. As críticas são levianas, pessoais demais. As bochechas de Paulo Guedes, os seios de Joice Hasselman, o micropênis de Eduardo Bolsonaro. Constatações que não levam a lugar algum no debate. Apenas acirram os ânimos e expõe uma possível falta de argumentos.
Num governo de imbecis e ignorantes, o melhor é combater tudo isso com cultura, filosofia. É o que esperava deste livro de Ghiraldelli. Mais Foucault, mais Platão, mais Deleuze. No entanto, no final, o que se observa é um amontoado de observações planas e uma psicologia de boteco -- sério? vai falar que Bolsonaro é assim por conta de algum trauma de infância? Chega a ser constrangedor. Uma pena. Tinha muito potencial.
eu não me admiro de ghirardelli e sim de quem acha que a filosofia explica alguma coisa...filosofia não é um método unificado, uma ciência que conte com ferramentas de análise reais e homogêneas; na atualidade virou apenas uma caricatura do que foi ( uma tentativa de elaborar uma visão holística da realidade através de ciências conjugadas) não passando duma literatura densa, no melhor dos casos. o problema grave é que ela ajuda a relativizar o conhecimento, confundindo assim a quem a ela se aproxima em busca de esclarecimentos. o que ghirardelli escreve sim é filosofia, a filosofia dele. fora desse campo, não há como um filósofo explicar algo que vai além do seu treino técnico. para quem realmente quer entend…
👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻 CONCORDO PLENAMENTE. Esperava muito mais quando comprei o livro. Realmente o início é interessante, mas quando ele da a entender que o Moro fez o que fez porque sua esposa queria chegar à alta sociedade paulista, tive a impressão de ler uma coluna de fofoca.
Não passava de uma análise pessoal que nada tinha a ver com filosofia.