O cinema é uma arte completa que permite refletir, se emocionar ou, simplesmente, passar o tempo se divertindo. Mas para que essas experiências aconteçam de fato é preciso que vários elementos -- dentro e fora da tela, inclusive na mente da audiência -- estejam em sintonia, transformando as sequências de cenas projetadas em algo a mais.
É sobre isso, em suma, que trata a importante antologia A Experiência do Cinema, que ganha nova edição pela Paz & Terra. Combinando textos de estudiosos e filósofos de cinema desde seu nascimento como arte até revoluções visuais mais recentes, o livro é um passeio pelos bastidores e pelos efeitos naturais do cinema como experiência, trazendo à tona assuntos pouco debatidos e, por vezes, obscuros para grande parte do público.
Ismail Xavier, teórico e professor de cinema, é um organizador que vai direto ao ponto e que organiza os estudos da maneira mais natural possível. Os primeiros textos, do psicólogo e filósofo Hugo Münsterberg, por exemplo, são do início do cinema, quando nem havia som nas projeções. Ainda que aparentemente datados, os estudos do teórico alemão ajudam a compreender aspectos básicos da arte, como close-up, atenção e uso de flashbacks.
Em seguida, a seleção de textos de Xavier vai colocando pequenos tijolos na compreensão, por parte do leitor, do que é cinema, como ele age em nossas mentes, como ele é feito, quais recursos são usados. São textos por vezes voltados à reflexão da retratação humana no cinema (de Béla Baláza), por vezes voltados ao modo que afeta a psicologia (de Maurice Marleau-Ponty), e indo até aspectos mais técnicos, como direção e montagem.
Além da sensação de que o livro está engrandecendo a própria experiência de ver filmes, há uma certa naturalidade e prévio conhecimento do que é dito. O diferencial é que o livro impõe esses fatos cinematográficos por meio de palavras, estudos, teorias e provas -- apesar de saber, por exemplo, sobre o recurso do close-up para chamar a atenção a determinado objeto, nunca tinha parado para pensar nas implicações sobre a psicologia disso.
Xavier ainda divide a antologia em três partes: a primeira sobre aspectos técnicos, a segunda sobre aspectos subjetivos e a terceira, um pouco mais complexa para quem não é da área, sobre influências psicológicos sobre a sétima arte. É um divisão precisa, bem feita e que facilita a leitura, dando dinamicidade e organização ao que está sendo lido e estudado.
A Experiência do Cinema é, em resumo, um livro essencial para quem tem algum tipo de curiosidade sobre a construção -- como o próprio título diz -- da experiência que é viver e sentir um filme, indo além dos maniqueísmos e da superfície. E apesar de ter um ou outro texto mais complexo, fique tranquilo: se está começando agora no mundo da cinefilia, o livro de Ismail Xavier também é pra você. Aliás, só deixará a sensação de que é uma paixão sem volta.
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