São poucos os atores que, ainda jovens, têm a oportunidade de trabalhar com grandes cineastas. E, dentro do universo cinematográfico europeu, Julie Delpy foi uma delas. Com apenas 25 anos, já havia trabalhado com Jean-Luc Godard, Leos Carax, Agnieszka Holland e Krzystof Kieslowski. Após a entrevista de Cameron Bailey com Ethan Hawke, para discutir o primeiro filme da trilogia, Antes do Amanhecer, Julie Delpy foi a convidada do Festival Internacional de Cinema de Toronto (TIFF) para comentar sua experiência na sequência, Antes do Pôr do Sol. Confira abaixo seis curiosidades que selecionamos desta conversa:
1. Julie Delpy também escrevia sobre o papel de Jesse
"Muitas vezes as pessoas me perguntam 'Como você deixou o personagem de Ethan falar falar isso para ela [Céline]? e eu fico 'Fui eu que escrevi isso para ele'. As pessoas assumem que, por eu ser mulher, eu irei escrever somente para a mulher, e que eu não terei algo um pouco misógino, algo que um cara pode falar, ou algo engraçado, ou tirar sarro da minha própria personagem. Nós não nos censuramos, nós trabalhamos juntos. Somos muito abertos, então nós falamos as coisas do jeito que são e eu sinto que isso é muito gostoso. Como mulher, trabalhando com dois homens, eles me escutam muito.
2. Durante o processo de escrita, não havia discussão
"A gente discordava, mas não discutíamos. Naquilo que discordávamos, ou a pessoa que queria aquela ideia no filme tenta provar que faz sentido, explicando porque é necessário, ou largamos. Se dois de três falavam "isso não vai funcionar, esqueça", a não ser que a pessoa realmente conseguisse provar que era totalmente necessário para o filme. A gente nunca teve brigas, nunca tivemos momentos em que Ethan saiu da sala, ou que eu ou o Richard saíssemos da sala. Isso nunca aconteceu. Sempre tinha uma boa risada, a gente se divertia muito e brincava sobre muitas coisas.
3. Eles falavam muito de sexo enquanto escreviam o roteiro
"Parece estranho quando eu falo isso, mas a gente brinca muito sobre sexo, sabe. Se as pessoas realmente escutassem o que a gente fala e aí a gente surge com essas ideias românticas lindas, é um misto dos pensamentos mais sujos que nós temos. Nós falamos as coisas mais nojentas para a arte. Não nojentas, mas bobas e aí, boom, romance. Se as pessoas escutassem, não iam acreditar que dali saiu romance. Mas o que é romance senão uma expressão daquilo que é verdadeiro? E quando brincamos sobre essas coisas, tem uma verdade. Eles não são maliciosos, eu sou a pior".
4. Nada era improvisado, e sim resultado de muito ensaio
"Nós ensaiamos muito. Eu e Ethan aprendemos nossas falas separadamente. Com pessoas que nos ajudam. Mas nós a aprendemos perfeitamente. Não erramos uma palavra, nem uma pontuação, nenhum errinho. Depois nos juntamos e ensaiamos muito, até que se torne completamente orgânico, até não sabermos mais o que estamos fazendo. Até entramos na "zona", esse lugar onde, como se estivesse no palco, você simplesmente está fazendo. É um sentimento ótimo, na verdade. E você vive o momento, de certa forma, mas requer muita prática por trás. Acho que atuar é como aprender um instrumento.
5. A música do final do filme foi escolhida por Julie Delpy
"Sempre foi minha música favorita da Nina Simone e quando estávamos escrevendo eu a mostrei pro Richard, e eu meio que encenei na hora, porque eu já tinha visto Nina Simone ao vivo duas vezes em shows. E quando eu mostrei pro Richard ele disse "ok, esse pode ser o final do filme".
6. Diferente de Ethan Hawke, ela não pensa mais na personagem de Céline
"Minha vida é tanto trabalho. Não consigo pensar em nada que não seja minha vida. Então eu não penso em personagens passados. É uma ideia linda, eu amo o Ethan, e eu acho incrível que ele tenha esse personagem do Jesse nele de certa forma, em todos os momentos, mas eu não tenho isso. Eu não tenho tempo"
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