Ao longo dos últimos tempos, a literatura tem se debruçado cada vez mais em entender melhor o fascismo. Afinal, movimentos populistas autoritários estão insurgindo ao redor do mundo com objetivos bem claros de abalar a democracia. Só olhando para o passado e para nossas estruturas políticas para, enfim, conseguirmos combater esse perigo que nos espreita por aí.
Assim, a seguir, elencamos cinco livros essenciais para entender o fascismo e, acima disso, esses movimentos populistas autoritários que destacamos. Alguns falam diretamente sobre o tema, outros tratam de temas paralelos que influenciam diretamente na política e na sociedade. Mergulhe a seguir nas nossas dicas, escolha a leitura e aproveite. Tenha boas reflexões!
Fascismo à Brasileira, de Pedro Dória
Excelente livro do jornalista Pedro Dória, Fascismo à Brasileira não faz uma análise crua e direta do governo Bolsonaro, da extrema-direita ou do levante fascista que estamos vivendo. Nada disso. A obra se propõe a ser um livro de História, no qual somos convidados a conhecer, refletir e analisar o Integralismo. Para quem não sabe, esse movimento da primeira metade do século XX acometeu o Brasil com uma proposta inspirada no que estava acontecendo lá fora, principalmente Alemanha e Itália: unificar o País em um só lema e bandeira. Fascismo, enfim.
Dessa forma, ao longo de mais de 260 páginas, Doria fala sobre as origens de Plínio Salgado — o líder desse movimento e que desejava ser uma espécie de "Mussolini brasileiro" — e de como o Integralismo se movimentou e se desenvolveu a partir dessas ideias ultranacionalistas de seu líder. É, enfim, um retrato sobre um período da História do Brasil, contado com primazia pela ótica desse jornalista. Ainda que um pouco confuso e prolixo demais em alguns momentos, é um livro leve, de escrita solta e permite o mergulho necessário pra compreender nosso passado.
Diário da Catástrofe Brasileira, de Ricardo Lísias
Enquanto Pedro Doria olha para o passado, o escritor Ricardo Lísias, do impecável O Céu dos Suicidas, analisa o presente de maneira quente, urgente. A obra é um diário de Lísias feito durante o primeiro ano do governo Bolsonaro. Sem nunca esconder sua opinião, o autor vai analisando não só cada acontecimento e escândalo do desgoverno brasileiro, como também expressando seus sentimentos e trazendo reflexões sobre pilares que sustentaram a vitória.
O teatro da Lava-Jato, o apoio calado da imprensa e a confusão (proposital, talvez?) de alguns intelectuais durante todo o processo reacionário que abalou o Brasil estão retratados aqui. Lísias, também, faz a análise mais apurada e interessante que vi até o momento sobre o impacto das correntes de WhatsApp, com imagens falsas e mensagens odiosas contra oposição.
Um registro histórico importante, que precisa sempre ser revisitado para relembrarmos.
Em Nome de Quem?, de Andrea Dip
Outro livro que não fala sobre o fascismo em si, mas de um componente urgente nesse novo cenário político e social, é Em Nome de Quem?, de Andrea Dip. Aqui, a autora investiga os meandros, as particularidades e a formação da chamada bancada evangélica, que dita pautas conservadoras dentro da Câmara dos Deputados. A autora, que já cobriu essa temática antes, se dedica a entender como funciona a união entre política e religião, temas controversos e opostos.
O resultado, o livro Em Nome de Quem?, deixa claro a quantidade de trabalho que Dip teve. Mesmo que todo seu conteúdo esteja resumido em 160 páginas, sua força e seu cuidado com os detalhes saltam do texto e engrandecem na mente de quem lê. É forte a constatação feita por Dip, que deixa claro como os dois assuntos estão se misturando com o passar do tempo -- ao mesmo passo que a tal bancada só cresce em tamanho e barulho, mudando rumos da política.
Uma Breve História das Mentiras Fascistas, de Federico Finchelstein
Agora, dois livros mais teóricos sobre fascismo e que nos ajudam a entender o que é isso. Em Uma Breve História das Mentiras Fascistas, o historiador Federico Finchelstein se aprofunda em características do fascismo do passado para entender esse perigoso movimento de hoje em dia, encabeçado por Donald Trump, Jair Bolsonaro e outros nomes tão podres quanto. Afinal, como ele próprio diz no começo, é olhando para a nossa História que entendemos presente e futuro.
Assim, a análise se concentra na cultura das mentiras fascistas. O autor, com fatos históricos documentados, mostra como ditaduras como as da Itália e Alemanha se valeram da distorção da realidade pra expandir poderes e controle. É um material rico, já que o autor não joga a interpretação do passado no colo do espectador e vai embora. Ele faz paralelos, e extremamente pertinentes, entre essa História que maculou o mundo com os passos que seguimos.
Fascismo Eterno, de Umberto Eco
Em um primeiro momento, O Fascismo Eterno impressiona por suas diminutas proporções. Editado pelo Grupo Editorial Record, a obra de Umberto Eco conta com apenas 64 páginas e um formato próximo ao pocket book. Mas o conteúdo de suas frases, por mais clichê que seja essa colocação, é imenso, gigantesco. Afinal, o texto do italiano, datado de 1995, continua atual e de extrema importância para a compreensão completa e irrestrita da política e sociedade.
Como é explicado pelo próprio Eco no início do livro, O Fascismo Eterno foi uma conferência, pronunciada em inglês, que ocorreu nos EUA em 1995. Só algum tempo depois que acabou virando texto, na The New York Review of Books, e dois anos depois se tornou a produção literária mais celebrada de Cinco Escritos Morais. Mas, afinal, qual o motivo de transformar um texto, que era inicialmente um discurso proferido por Eco, num livro único? Por qual motivo reeditá-lo agora, dando tanta ênfase na temática? Qual a importância desse discurso?
As perguntas para essas respostas, que devem surgir de maneira natural quando se entra em contato com o livro pela primeira vez, vão sendo rápida e satisfatoriamente respondidas ao longo dessas seis dezenas de páginas. O texto de Eco, que morreu em 2016, continua assustadoramente atual. Afinal, ele traça alguns paralelos e coincidências ao redor de fascismos que ocorrem através do mundo -- e o porquê de movimentos totalitários serem chamados assim. É praticamente uma aula de Eco, que se torna imprescindível em tempos modernos.
Baita seleção!
Caro MATHEUS Excelente coletânea de idéias, livros, ângulos, pensamentos .... Vivemos um tempo obscuro, escuso. Literaturas assim urgem em nossa necessidade. Saudações, Joaquim.