É difícil encontrar um fã de cinema que nunca tenha escutado o nome de Guillermo Del Toro. E se não o conhece de nome, definitivamente está familiarizado com seus filmes, seja o vencedor do Oscar A Forma D'Água ou o querido O Labirinto do Fauno. Del Toro é um diretor, roteirista e produtor mexicano que durante toda sua trajetória deu vida à estranhas criaturas, monstros. O que pode parecer medonho à primeira vista, e até à segunda, ganha outro significado quando entende-se a história de vida e motivações de Del Toro. Durante uma entrevista para o Festival de Cinema Internacional de Toronto (TIFF), o cineasta compartilhou com o público diversas curiosidades sobre sua carreira e O Labirinto de Fauno. Selecionamos cinco para você conferir!
1. Sua relação com monstros é algo tão íntimo como a religião é para outras pessoas.
"Quando eu era criança, eu via um fauno saindo de trás do armário na casa da minha avó. É o que eles chamam de sonho lúcido, ou terror noturno, eu não sei. Eu estava dormindo, mas sonhando que estava no mesmo lugar em que adormeci. E eu costumava ter essas coisas. Sabe, o meu relacionamento com monstros é absolutamente singular no sentido em que eles estão fundidos com quem eu sou, de uma maneira que me permitiu existir. Acho que havia muitas coisas quando eu era criança que me aterrorizavam e, em algum momento, a criação dessas criaturas desde a infância me permitiu entender o mundo. É realmente íntimo, como a religião seria para outras pessoas."
2. Sua avó não aprovava seus desenhos
"Desde que eu era criança, minha tia-avó - a quem eu chamo de avó, porque eu não tinha avó, já que a mãe de minha mãe morreu no parto - odiava monstros. E eu continuava desenhando-os. Ela tentava me subornar para parar de desenhá-los, mas guardei esses pequenos desenhos. E ela chorava e dizia "Por quê? você é um menino tão bom! Por que está desenhando essas coisas terríveis?" e eu costumava dizer "elas são lindas, são lindas para mim"
3. Estudou meticulosamente contos de fadas antes de escrever o filme
"Eu já tinha lido Bruno Bettelheim e Maria Tatar, e todo esse tipo de coisa. Mas quando eu estava me preparando para o Labirinto de Fauno, eu fui e comprei textos muito mais raros. Desde criança, coleciono contos de fadas. Há uma coleção de Andrew Lang, um escritor muito interessante na Inglaterra, e ele curou uma série de livros de contos de fadas codificados em cores: O Livro de Fadas Rosa, Os Livros de Fadas Azuis, e esse homem foi muito interessante para mim. Explorando, houve um momento na cultura vitoriana, onde havia textos muito interessantes escritos sobre contos de fadas. Um deles era chamado A Ciência dos Contos de Fadas. Eles estavam no meio do caminho entre folclore e contos, e quase antropologia. Então peguei esses livros, voei sozinho para a Espanha, em Madri, e me tranquei em um quarto de hotel muito barato e fiquei lendo.
4. Percebeu pontos em comum entre diferentes contos de fadas
"Eu lia e anotava tudo o que fazia um conto de fadas ser clássico. Como por exemplo a regra do três. Cachinhos dourados vai até a casa e encontra três potes de mingau: o pequeno, o médio e o grande. Uma garota vai até um palácio e encontra três gaiolas para o pássaro dourado. E eu acho que isso é uma questão muito católica. A trindade - pai, filho, espírito santo, etc. Outro deles está no Homem Pálido, que se chama Banquete das Fadas, que é onde alguém chega e fala 'não coma nada' e é claro que eles vão comer. Mas eu destilei isso no meu caderno e depois procurei por idéias alquímicas. Levou cerca de um ano apenas destilando coisas, antes de realmente escrever no papel."
5. Escreveu 'O Labirinto de Fauno' pensando em Doug Jones
"Eu conheci Doug Jones no Canadá, em Toronto, em 1996, enquanto filmava Mimic. Ele chegou e ele era muito, muito bom. Muitos atores não conseguem performar quando maquiados. Doug é um gênio e eu escrevi o filme pensando nele. A gente fez Mimic, Hellboy. Já nos conhecíamos. Doug achou que eu estava contratando ele para fazer dois personagens para economizar dinheiro. Eu disse "Não, não, não!". Tem um motivo, porque o Fauno testa a garota. E o Fauno faz o Homem Pálido, na minha imaginação. E tem uma pista no filme, se você assistir atentamente. Quando as fadas são devoradas pelo Homem Pálido, elas voltam no final, o que significa que eles nunca estiveram mortas. E eu disse para o Doug "Você precisa fazer!". E, obviamente, não só isso, o Fauno vai de um velho, arrepiante e trêmulo para um quase Mick Jagger. Conforme a garota progride nos testes, o Fauno rejuvenesce, e o Doug teve que fazer tudo isso."
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