1. A história é interessante
A trama de S. Bernardo acompanha a trajetória de Paulo Honório -- e narrada por ele próprio. Homem nascido de parco recursos, ele consegue reverter a situação ao comprar uma fazenda, no nordeste brasileiro, de um homem sem visão de negócios. A partir do investimento, ele se torna uma das referências da região. Quase um "coroné". Assim, se transformando, ganhando dinheiro e passando a ver o poder com outros olhos, Paulo muda suas atitudes e modos de lidar. Tudo isso escancarado nas páginas do livro escrito por Graciliano Ramos, que desnuda a briga de classes da região com uma narrativa rica, cheia de regionalismos, e que mostra a habilidade de Graciliano.
2. Ajuda a compreender o modernismo
O romance foi publicado pela primeira vez em 1934. Era uma época em que o mundo estava afundado numa grave crise por conta dos efeitos, ainda, da Primeira Guerra Mundial e da grave crise econômica de 1929 -- isso sem falar da Segunda Guerra Mundial, que já se avizinhava. Foi nesse contexto que o modernismo nasceu e floresceu, dando origens à obras que ainda marcam a história da literatura brasileira. S. Bernardo, em específico, surge na segunda fase do modernismo, quando há um forte rompimento com arte tradicional e um profundo mergulho nos regionalismos. Graciliano Ramos entrou nisso de cabeça e ajudou a compôr dores que o Nordeste do País já enfrentava.
3. Faz contraponto à 'Vidas Secas'
Vidas Secas é, sem dúvidas, o título mais conhecido de Graciliano Ramos -- por ser, dentre outros, um dos livros exigidos na prova da Fuvest. É interessante notar, então, como S. Bernardo faz um contraponto ao que é visto na obra clássica e mais difundida. Enquanto Vidas Secas é sobre o sertanejo que partiu, S. Bernardo é sobre o sertanejo que ficou, que ainda enfrenta as agruras que a vida lhe reservou. Por isso, se for ler S. Bernardo -- o que recomendo veementemente -- também volta a se embrenhar na leitura de Vidas Secas. As histórias se complementam. Uma fala sobre a outra.
Mas, porém, todavia, entretanto...
Há um aspecto que pode incomodar. É o pouco desenvolvimento que Graciliano Ramos dispensa aos personagens secundários -- principalmente Madalena, que tinha potencial de ser uma espécie de segunda Capitu. Mas é preciso lembrar. O livro, que tem um formato muito parecido com o de Dom Casmurro, é narrado pelo próprio Paulo Honório. São as visões dele sobre sua vida. Nada mais esperado, sendo ele um egocêntrico...
Comments