O Ódio que Você Semeia se revelou como um dos filmes mais interessantes de 2018. Junto com Infiltrado na Klan e Ponto Cego, formou uma trinca de histórias fortes sobre a comunidade negra ao redor do mundo -- e a violência inerente a este grupo racial. Por isso, que boa surpresa é a leitura do livro que inspirou o longa-metragem protagonizado por Amandla Stenberg. Escrito por Angie Thomas, O Ódio que Você Semeia é ainda mais original, forte e real do que o filme. Outro soco no estômago, sem qualquer escapatória.
Abaixo, reunimos os três motivos para ler a história original de Angie Thomas, editada no Brasil pela Galera Record:
1. Força da história
A trama de O Ódio que Você Semeia acompanha a história de Starr, uma garota do subúrbio americano que passa por um forte trauma ao ver seu melhor amigo ser morto, sem motivo, por um policial. A partir daí, cria-se uma espiral de ódio e intolerância ao redor da garota. Afinal, traficantes da região querem que ela esqueça essa história para evitar que investigações recaiam sobre eles. Negros, ativistas e a família de Starr, por outro lado, anseiam por justiça. O que fazer? Este é só o pontapé de uma trama com força rara em livros juvenis, não subestimando o poder do público. História real, urgente e necessária.
2. Angie Thomas
O livro é a estreia de Angie Thomas, autora americana de Jackson, no Mississipi. Contando uma história de dentro de sua realidade, a escritora consegue mesclar a força de seu relato com a sutiliza que a história exige. Assim, a violência policial é uma frequente do livro, mas nunca chega a ser escancarada como produções clássicas de Hollywood, como Mississipi em Chamas ou o recente Detroit em Rebelião. Além disso, a autora entende do que está falando, entende da comunidade, entende da temática que está tentando passar. E tudo fica natural, com insights na vida e cultura da comunidade negra e que deixam tudo ainda mais real -- a referência à Tupac, por exemplo, é genial.
3. Trama atual
O filme fala sobre um tema extremamente atual em todo o mundo: violência policial contra a comunidade negra. Só no Brasil, por exemplo, dos 4.222 mortos em decorrência de intervenção policial em 2016, 72% eram negros. Nos Estados Unidos, os números não são diferentes. É preciso discutir isso em diferentes níveis, formatos, métodos. Neste ano, o documentário Auto de Resistência elencou algumas histórias fortes e reais nas favelas brasileiras. Marcha Cega mostrou a violência policial em protestos. Lá fora, Kathryn Bigelow impressionou com o excepcional Detroit em Rebelião, Spike Lee com Infiltrado na Klan e Carlos López Estrada com Ponto Cego. E O Ódio que Você Semeia coloca mais um tijolo importante nessa discussão, seja com o livro ou com o filme. Um complementa o outro em termos de complexidade da história e de sua importância. Leia, assista, discuta. É preciso falar mais sobre violência policial. É preciso refletir meios. Principalmente com uma história delicada como essa.
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