1. A história
Uma das melhores coisas do audiovisual brasileiro é quando um filme ou uma série traz informações reais e interessantes, mas desconhecidas do grande público. Cria-se um sentimento de surpresa com a trama, ao mesmo tempo que há aquela sensação de pertencimento. De ser algo perto de você, mas novo. É esse o caso da série A Divisão, que chega com exclusividade ao streaming Globo Play. Dirigida por Vicente Amorim (Motorrad) e produzida por José Júnior (do AfroReggae), a produção conta a história real de uma epidemia de sequestros que aconteceu no Rio de Janeiro, na década de 1990. A coisa só começou a ser solucionada quando a DAS, uma divisão da polícia para sequestros, entrou na jogada. E começou a ter atitudes pouco ortodoxas.
2. Produção caprichada
A partir dessa trama, A Divisão traz um cuidado evidente e aparente com o que está sendo contado. Amorim não se furta em trazer a verdade para o centro da tela, escancarando a violência de atos policiais e quebrando vários clichês do gênero. Como ele disse durante coletiva, e que sublinhamos em matéria que publicamos no Estadão, o objetivo da produção é causar desconforto. E, sem dúvidas, isso funcionou. Além disso, vale ressaltar o bom trabalho de elenco. Principalmente Marcos Palmeira, Erom Cordeiro, Silvio Guindane, Natália Lage e Vanessa Gerbelli. Elenco preparado, com uma clara vontade de entrar de cabeça no papel. E sem medo desse desconforto. Que é real.
3. Diálogo com a atualidade
O mais impressionante de A Divisão, que tem uma linda fotográfica que remete à década de 1990, é o diálogo que a série consegue travar com a atualidade. Por mais que a onda de sequestros tenha sido coibida, e ficado pra trás, a violência no Rio evoluiu. E inclusive começou a ser exportada para outros estados -- hoje, o Comando Vermelho, nascido nos morros cariocas, comanda presídios no Norte e trava uma briga ferrenha com outros grupos criminosos. É interessante, então, perceber como essa violência nasceu, cresceu e se desenvolveu. Essa história, junto com dezenas de outros fatores sociais e antropológicos, devem ter contribuído pra situação hoje. Faz pensar e traz boa reflexão.
Mas, porém, todavia, entretanto...
Há de se destacar que a série é bem, bem violenta. Não há pudor em algumas das coisas que são mostradas -- aliás, passa longe do que são as novelas das Globo. Não confunda o que é exclusivo Globo Play com o que é exibido no canal carioca. Por isso, é um fator que pode entrar no nosso ponto contrário: algumas pessoas podem procurar a produção e se chocar. Isso sem falar do problema natural de público. Como a série vai conseguir atingir outros mercados? Vai precisar vencer barreiras. E não vai ser fácil.
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