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Foto do escritorMatheus Mans

'Internet já faz parte do cinema', diz diretora de 'Amor.com'


Em uma era de convergências de mídias, nada mais natural do que a internet invadir o cinema -- e vice-versa. Por isso, vemos cada vez mais as produções cinematográficas entrando na web, com streamings, e, do outro lado, elementos do universo virtual começando a influenciar a sétima arte, com personagens nascidos da internet e, principalmente, com uma linguagem que é usada pelas pessoas neste ambiente.

Agora, o Brasil já começa a sentir os primeiros efeitos desta convergência: após filmes com youtubers e influenciadores como personagens principais, como o péssimo Internet: O Filme, o cinema brasileiro irá receber nesta quinta-feira, 1, o primeiro longa-metragem de romance que tem dois atores comuns (Ísis Valverde e Gil Coelho) vivendo a rotina de dois produtores de conteúdo do YouTube no filme Amor.com.

"Estamos entrando em um novo momento do cinema e, também, da internet", disse a diretora do longa, Anita Barbosa, em entrevista ao Esquina. Barbosa, que foi assistente de direção de filmes como Chico Xavier e Divã, assume a direção de seu primeiro longa-metragem e toma para si a responsabilidade de ampliar ainda mais a presença da internet na sétima arte -- para tristeza de cinéfilos mais tradicionais que rechaçam esta mistura. "É preciso entender que a internet já faz parte da vida das pessoas", afirma, categórica, a cineasta.

Com tantas polêmicas envolvendo o tema e esta transformação cada vez mais eminente entre mídias, o Esquina conversou com Anita e falou sobre os desafios de fazer um filme como esse, os preconceitos de produções sobre youtubers e como ela vê o futuro do cinema. Abaixo, os melhores trechos da conversa com Anita Barbosa:

Esquina: Como surgiu a ideia do filme?

Anita Barbosa: Há alguns anos, tive a ideia de um filme sobre uma menina blogueira que se apaixonava por um nerd. Agora, quando me chamaram para fazer o filme, trouxe a ideia para a nossa realidade: ao invés de blogueira, usamos uma youtuber de moda; e o nerd acabou ganhando forma como o youtuber geek, que joga RPG, videogame. A partir daí, por meio de muito estudo e muita pesquisa, começamos a desenvolver roteiro, a entender como funcionava o dia a dia desses influenciadores, como funcionava a gravação de um vídeo para o YouTube. Com isso, descobrimos que este é um mundo plural e que eu já admiro muito.

Esse é um dos primeiros filmes no Brasil que falam sobre youtubers e não tem youtubers como os seus protagonistas. Como os atores encararam o projeto?

Eles encararam o projeto como uma descoberta. Afinal, você começa a entrar e a compreender um novo universo que não faz parte do seu. Assim, a Ísis Valverde e o Gil Coelho falavam com os influenciadores e com seguidores, para entender melhor ainda como funcionam as coisas. Descobriram que as pessoas não falam "que legal", mas que falam "que mara", por exemplo. É algo que veio dos atores e que eles se prontificaram a inserir no filme.

Como adaptar a linguagem da internet para o cinema?

São várias etapas. Primeiro, você precisa saber qual filme você quer fazer e quais interferência você irá fazer no roteiro. Eu, por exemplo, me inspirei em Homens, Mulheres e Filhos (do diretor Jason Reitman), que coloca mensagens na tela -- eu não queria ficar mostrando a tela do computador o tempo todo, isso iria cansar o espectador. Além disso, eu compreendi o ambiente dos seguidores e transformei eles num personagem no filme.

Muitas pessoas estão encarando o filme de maneira crítica, principalmente por preconceito pelo filme tratar de youtubers. Como você vê isso?

O cinema, assim como a internet, é entretenimento. Por isso, o resultado depende da forma como você coloca. Não adianta fazer um filme sobre um youtuber, simplesmente. Tem que ter uma história para a gente contar. No caso de Amor.com, não estamos falando sobre a vida de uma youtuber. Nós contamos uma história de amor entre duas pessoas, que são youtubers. É uma profissão, como qualquer outra e que está se tornando cada vez mais comum. Não tem como negar que a internet já faz parte de nossas vidas e do cinema.

Não falta um ar mais crítico em filmes que envolvem 'youtubers' e outras histórias que envolvem este mundo virtual no Brasil?

Em Amor.com, eu fiz um trabalho sobre o bullying na internet, que é algo cada vez mais real e presente na vida das pessoas. Afinal, a internet é um ambiente muito democrático -- para todos os seus efeitos. Por isso, você acaba aberto para receber tudo que as pessoas tem a dizer. E no nosso caso, colocamos duas personagens opostas e que começam a viver um romance na frente de seu público, que começa a se meter, a dar opinião sobre o relacionamento. Isso é algo muito real, muito próximo da realidade das pessoas: elas não conseguem ter a si mesmos.

Mas o que você acha de filmes de 'youtubers'? Até o momento, tudo que foi produzido só recebeu críticas negativas e pouco destaque.

Estamos vivendo um momento novo. Adolescentes nasceram na época da internet, estão acostumados com isso. Não tem como ficar de fora do cinema, que é uma mídia democrática e que todos os tipos de histórias. E se as pessoas estão vivendo um momento em que a internet faz parte de suas vidas desde sempre, o mundo também precisa estar presente no cinema.

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