Remakes, geralmente, não dão certo. Dá para contar nos dedos as vezes que as refilmagens superaram os originais -- num rápido exercício de memória, é possível lembrar apenas de Os Infiltrados, Bravura Indômita, Scarface e Perfume de Mulher. Já os que não funcionaram são inúmeros, como as tentativas de refazer Carrie, a estranha e a terrível sequência de Psicose. Agora, mais um filme entra nesta lista de refilmagens desnecessárias: a versão argentina do clássico francês Intocáveis, de 2011.
Com o sugestivo título de Inseparáveis, o filme argentino tem a mesma premissa e a mesma história: um bilionário tetraplégico (Oscar Martínez, que brilhou no recente O Cidadão Ilustre) sai em busca de uma ajuda médica para suas necessidades diárias. No entanto, no meio do caminho, ele acaba contratando seu jardineiro, o honesto e simpático Tito (Rodrigo de La Serna, um tanto quanto caricato demais), que se mostra, com o decorrer do tempo, como um amigo e confidente.
Assim, no resultado final do novo filme, apenas uma ou outra adição foi feita para inserir elementos da cultura argentina -- ao invés do imigrante africano, por exemplo, usaram um rapaz simples e sem grandes recursos. Estas alterações, no entanto, não fazem de Inseparáveis um filme necessário, original, inventivo. Preso à estrutura da trama de 2011, o diretor Marcos Carnevale não consegue fazer com que o seu novo filme avance, transformando-o em um déjà vu de 108 minutos.
E esta sensação não é positiva para ninguém. A experiência é custosa e o espectador, a todo o momento, faz ligações, comparações e referências com o original -- assim como acontece com qualquer remake de filmes marcantes na história e que ganham refilmagens pouco inventivas, como Ben Hur recentemente. Nem mesmo Martinez, ator argentino com cada vez mais destaque na cena cinematográfica, consegue salvar o longa do caos narrativo.
Neste momento, então, é inevitável que o espectador se pergunte: porque esse filme existe? Qual era o grande objetivo de refilmar um grande sucesso, lançado há apenas 6 anos, e que ainda está na mente das pessoas? O que a Argentina e o cinema latino-americano ganham com este remake? A resposta, é claro, é difícil de ser cravada, mas geralmente circula entre dois espectros: o dinheiro e a adaptação de uma história para diferentes culturas e diferentes tipos de público.
E, nestes dois casos, Inseparáveis falha terrivelmente: não está tendo bom desempenho nas bilheterias mundiais e, principalmente, não consegue adaptar a história para a cultura local, já que pouco foi alterado e customizado. Assim, o longa-metragem argentino entra num grupo de filmes com o triste rótulo de histórias que não acrescentam em nada ao espectador. No máximo, a lição de que remakes devem ser usados cada vez com mais moderação, para não tornar o cinema um grande déjà vu.