O paraense Ricardo Juarez não é um ator comum. Com voz grave, que reverbera ao telefone, ele conta que já interpretou um pinguim surfista, uma girafa hipocondríaca e, até mesmo, um estranho computador. Já viveu o herói Hellboy, assim como também foi um dos assustadores vilões de Meninas Superpoderosas. É um ator completo, mas que nunca pôs a sua cara na tela da TV ou do cinema. Afinal, Ricardo é dublador.
Há mais 20 anos na profissão, Ricardo já conheceu os sabores e dissabores da dublagem. Com mercado difícil, ele viveu os primeiros anos apenas fazendo pontas e pequenos papéis. Foi apenas no final dos anos de 1990 que recebeu seu primeiro convite de peso: viver a personagem Johnny Bravo, do canal Cartoon Network. Aceitou na hora o desafio e, até hoje, não se arrepende. “Foi a personagem que me projetou para o mercado”, conta Ricardo em entrevista ao Esquina.
Abaixo, confira a entrevista completa com Ricardo sobre seus papéis preferidos, os desafios da profissão e a dica para quem quer seguir neste curioso mercado:
Esquina: Só de ouvir sua voz, já dá pra saber que você fez o Johnny Bravo. Mas quais outros personagens você destaca?
Ricardo Juarez: Nos meus mais de 20 anos de carreira, foram inúmeros personagens. Claro, eu acho que Johnny Bravo, de 1997, é o mais famoso, o mais conhecido. Mas também tem o Edu, de Du, Dudu e Edu; tem o computador do Coragem, de Coragem, o Cão Covarde; tem o vilão Fuzzy Confusão, de Meninas Superpoderosas. Também fiz o narrador de Digimon e que, pra minha surpresa, é muito bem aceito e bem reconhecido. Também fiz o Barney, de Os Simpsons. É aquele que está sempre bêbado, arrotando.
E no cinema? Você fez algo?
No cinema tem o Melman, a girafa de Madagascar; tem o Johnny Worthington, de Universidade Monstro. No Tá Dando Onda, dos pinguins surfistas, eu fiz o Tank Evans, um vilão. O que mais? Fiz, na série Transformers, o Sargento Gibs. Também dublei o próprio Hellboy; Will Ferrell em diversos filmes. Tenho que puxar pela memória. É difícil falar de um só que eu gostei de fazer.
Vou fazer a pergunta clássica para atores: o que tem do Johnny Bravo em você?
Talvez um pouco da ingenuidade dele, de sonhar acordado. Acho que é só isso em comum. Mas eu adorava fazer o Johnny, tenho saudades.
Como funciona um dublagem?
O processo, basicamente, passa inteiro pelas mãos do diretor de dublagem, que resolve dar chance para o ator que deve fazer melhor o papel, seja de desenho, game ou filme. Pode ser por teste ou indicação direta do diretor.
E quando um personagem já foi dublado por algum ator em específico?
Quando é um ator que você já dublou em algum filme, costuma ser respeitada a voz oficial. Mas também pode ser que o cliente peça um teste para escolher outro ator, para ver se outras vozes encaixam no personagem. Por isso, às vezes, a voz de um personagem ou ator pode mudar.
Não é uma profissão fácil, não é? Quais as dificuldades?
Acredito que o mais difícil é a pessoa entrar no mercado e ter paciência para desenvolver um trabalho que pode demorar anos. Eu comecei em 1990 e só em 1997 veio o Johnny Bravo. Eu só fazia pontas bem pequenas. Muitas pessoas desistem no meio do caminho por não pegarem personagens médio ou grandes. Mas isso não importa. A pessoa precisa fazer o trabalho bem feito, com alegria. Algumas pessoas ficam sempre fazendo papéis pequenos e desistem. Quando todo mundo entra, você precisa crescer com a profissão. E, no final, alguns se destacam muito e outros não se destacam tanto. Acho que a pessoa precisa esperar acontecer na profissão.
E tem muita gente que critica os filmes dublados. Como você encara isso? Afinal, é o seu trabalho.
É normal. Qualquer pessoa em uma profissão tão pública como a de dublador recebe críticas ou elogios. Não vejo problema com isso. A pessoa já tem tecnologia para ver o que mais te agrada do jeito que mais te agrada. Acho que todo mundo tem direito por optar versão dublada ou legendada.