A literatura policial e de terror sempre foram marginalizadas para a crítica e para a imprensa especializada, seja no Brasil ou no exterior. Ao contrário de romances, poesia e da literatura de reportagem, eram tipos de escrita “menores”, mesmo em épocas com produção constante de expoentes do gênero como Sir Arthur Conan Doyle, Agatha Christie, Edgar Allan Poe, Dashiell Hammett e Georges Simenon.
No Brasil, não só existia preconceito com o gênero como também havia uma séria defasagem em sua produção. Apesar de Olavo Bilac, Lima Barreto e até mesmo Machado de Assis terem se aventurado no gênero, não havia grandes nomes produzindo ativamente no despertar da literatura brasileira. Autores como Rubem Fonseca e Marcos Rey surgiram apenas alguns anos depois, quando também começaram as incursões ocasionais de Luis Fernando Verissimo e até mesmo de Mario Prata.
Hoje, vivemos uma espécie de “renascimento” dos dois gêneros. Autores jovens e com técnicas de escrita apurada, como Raphael Montes, Cesar Bravo, Santiago Nazarian, Daniel Galera e Gustavo Ávila, despertam o interesse do público para estas leituras. Bebendo da fonte dos clássicos nacionais e incrementando com detalhes de obras de grandes nomes da literatura policial mundial, vemos uma escrita mais firme e madura.
Um dos responsáveis por esta transformação é o carioca Raphael Montes. Quando jovem, ele lançou o ótimo Suicidas, pela Benvirá, e conquistou público e mercado com sua técnica de escrita diferente do que as pessoas estavam acostumados. Com Dias Perfeitos, seu segundo lançamento, Montes deu uma virada em sua carreira e ainda marcou a entrada de um novo momento na literatura de gênero.
“Depois de Dias Perfeitos, acredito que a nova literatura policial começou a ganhar mais atenção da mídia e do mercado editorial”, afirma o escritor Raphael Montes em entrevista ao Esquina, que já tem edições de Dias Perfeitos para Estados Unidos, Dinamarca, França e até na Polônia. “Afinal, estamos sendo cada vez mais lidos e ainda mais nomes interessantes estão surgindo. Acredito que ajudei a quebrar esse estereótipo de que livro policial brasileiro não é lido.”
Além dele, outro nome do romance de terror surge com força: Cesar Bravo. Mesmo com menos alcance de mercado em comparação com Montes, Bravo impressiona por suas histórias bem escritas e com as belíssimas edições da DarkSide, editora que começou a publicar suas obras em 2016. Com o ótimo Ultra Carnem, por exemplo, Bravo conta contos de horror e que causam tanto espanto quanto qualquer história de Stephen King ou de Chuck Palahniuk.
“Se levarmos em conta o mercado literário e suas vendas, chegaremos à conclusão que, considerada verdadeira ou não, acadêmica ou não, a literatura de ficção é muito lucrativa”, disse Bravo em entrevista ao Esquina. “São livros que chamam a atenção de leitores, principalmente os mais jovens. Sobre eles, acredito que toda a literatura moderna deva ser considerada e respeitada.”
Bravo, que já está neste mercado há anos, alerta para aumento de concorrência entre escritores. O ponto negativo dessa explosão é que a concorrência aumentou muito. ”Então, você precisa se esforçar, precisa produzir no underground um material que consiga resistir e se expandir na superfície.”