Há cerca de cinco anos, quando me tornei um verdadeiro aficionado por cinema, passei a marcar todos os filmes que assisto em um aplicativo de anotações no celular. É padrão: assisto o filme e já entro no celular para colocar o título e o ano de exibição. Depois, após breve reflexão, insiro a nota entre 0 e 10. Até hoje, dos quase 2 mil filmes avaliados, apenas seis receberam minha nota máxima:12 Homens e Uma Sentença (1957), O Grande Lebowski (1998), O Auto da Compadecida (2000), Peixe Grande e Suas Maravilhosas Histórias (2003), Incêndios (2010) e O Lutador (2008).
Destes seis, o último foi o que mais me surpreendeu. Não que eu não tenha criado expectativas: o diretor, Darren Aronofsky, já era um ídolo para mim por conta de seus ótimos Réquiem para um sonho e Pi. Eu já tinha me dado conta de que ele era genial e que não entregaria algo menos digno do que fortes aplausos. Além disso, O Lutador conta com um dos meus atores preferidos -- e mais subestimados de Hollywood --, Mickey Rourke. Uma junção de ídolos que me deixou animado logo quando eu soube tardiamente da existência do filme.
A expectativa, então, era alta. E ela foi completamente preenchida com O Lutador. Em um primeiro lugar por conta da atuação inesquecível de Rourke, que via no filme sua redenção com Hollywood e o principal meio de mostrar que era (e é) um bom ator. Vendo isso, Aronofsky não se limitou. Bebeu de fontes como Rocky: Um Lutador, Chance de Vencer e até do o esquecido documentário Beyond the Mat, criando uma trama plausível, detalhistas e cheia de meandros e aprofundamentos.
Nela, acompanhamos um lutador de wrestler (Rourke) que, entre uma luta e outra, sofre um forte infarto e acaba sendo informado que corre risco de morte. Tentando viver os seus últimos dias ao máximo, ele acaba criando laços com uma stripper (Marisa Tomei) enquanto tenta se reaproximar da filha (Evan Rachel Wood), com quem teve uma relação complicada ao longo dos últimos anos.
Vemos na cena, então, um espetáculo. Rourke e Aronofsky parecem dentro de um ringue o tempo todo. Com a câmera na mão, o diretor precisa desviar do personagem de Mickey, que tenta, em todo o filme, ir atrás dos seus sonhos. É uma luta diária, árdua, complexa, real. É a história de um personagem comum e que, apesar de sua profissão alternativa, poderia viver em qualquer lugar. É um homem que enfrenta tudo para tentar ajeitar toda sua vida -- passando por cima da câmera, do ringue e dos problemas da vida.
Rourke, enquanto isso, faz o espectador esquecer de seus recentes papéis ruins, em filmes como Tráfico Humano e Entrega de Risco, fazendo-o viajar para as atuações em 9 1/2 semanas de amor e O Selvagem da Motocicleta. É uma entrega completa ao personagem, que faz com que o filme se torne ainda mais comovente, mas sem ser piegas. Afinal, apesar de sua aparência desgastada e levemente assustadora, ele impõe delicadeza no longa. Faz o espectador refletir, sentir.
Com esta junção de Aronofsky e Rourke, o filme deixa de ser de superação para se tornar um forte e comovente filme de história. Simples assim. Cinema em sua essência.
Disponível para assistir no Netflix, Google Play e iTunes.