O mineiro Samuel Cardeal, de 30 anos, queria publicar um livro. Autor de contos e outras histórias mais densas, o contador sonhava em colocar no papel uma história envolvendo seu principal ídolo, o cineasta Quentin Tarantino, e uma intensa trama de conspiração. Não deu certo nas principais e maiores editoras do País. A saída, então, foi simples: formalizar sua ideia, criar identidade visual e colocar o projeto no site de financiamento coletivo Catarse. O projeto, há poucas semanas no ar, já arrecadou mais de R$ 1,7 mil.
"Bancar uma tiragem sozinho é um grande risco", afirma Cardeal. "Por isso, eu resolvi entrar numa plataforma de crowdfunding, que permite que a produção dos livros seja direcionada. Será impressa apenas a quantidade exata para aqueles que adquirirem através do projeto. Além disso, a própria plataforma de autofinanciamento é uma vitrine para autores de livros."
Não foi apenas Cardeal, no entanto, que enxergou as possibilidades. Segundo o cofundador do site de financiamento coletivo Catarse, Diego Reeberg, o número de livros viabilizados na plataforma já ultrapassa as 200 obras por ano -- o que inclui projetos de Literatura, Quadrinhos, Fotografia, RPG e livros de artes que tenham atingindo o valor total necessário para financiamento ou, em caso de projetos flexíveis, 50% do valor exigido.
Somando todos estes projetos, a plataforma arrecadou R$ 4,75 milhões em 2016, enquanto cada livro teve um financiamento de, em média, R$ 16 mil. "As mudanças trazidas pela internet geram novas dinâmicas", afirma Reeberg. "Novos modelos, como o financiamento coletivo e a auto-publicação, acabam dando conta de uma demanda reprimida e que não seria comportada no modelo tradicional das editoras."
Atualmente, no mercado editorial brasileiro, grande editoras comportam entre 300 e 350 livros ao ano, de acordo com fontes ouvidas pelo Esquina. Já editoras pequenas publicam, em média, entre 30 e 50 livros ao ano. "Para muitos, o crowdfunding já é uma opção natural para a publicação de livros", afirma Reeberg. "No entanto, o financiamento coletivo também pode ser complementar ao mercado tradicional. Afinal, não substituímos o papel do editor, do revisor e de outros importantes agentes da cadeia do mercado editorial."
A escritora Pri Ferrari, por exemplo, chegou às grandes editoras por meio do Catarse: colocou em financiamento coletivo o livro Coisas de Menina e, no meio da arrecadação, acabou selando acordo com a Companhia das Letrinhas -- selo infantil da Companhia das Letras. "Eu sempre vi muitos livros nascendo de financiamento coletivo", disse em entrevista ao Esquina. "Preferi optar por este sistema para mais controle da qualidade sobre o meu livro."