François Cluzet se tornou um verdadeiro astro internacional. Depois de encarnar o milionário e deficiente físico Philippe, em Intocáveis, sua carreira deslanchou: fez comédias, romances e até animações que foram sucesso de bilheteria e de crítica. Agora, o ator surge com um belo drama intimista, Insubstituível.
No filme, que conquistou indicações ao César e se tornou a maior bilheteria da França em 2016, Cluzet é Jean-Pierre Werner, médico há 30 anos numa pequena cidade no interior francês e que é a salvação para todos ali. Durante 24 horas por dia, sete dias por semana, ele atende pacientes da região e os tranquiliza. É mais do que o médico da pequena cidadezinha rural: é a referência para todos que ali vivem.
As coisas saem dos eixos quando Werner descobre que está com um tumor no pulmão. Segundo o seu médico, é quase incurável. A partir daí, ele começa a difícil e complexa jornada de encontrar o novo médico para a região, que tenha a confiança dos pacientes e a mesma habilidade de Werner, já acostumado com as especificidades do local.
O filme é assim. Simples, direto e com uma premissa já vista em outras obras, como o recente e emocionante Bem-Vindo a Marly-Gomont e o razoável O Médico da Tirolesa. A diferença neste é a delicadeza francesa. Ao invés de se tornar um dramalhão, Insubstituível é delicado, sutil e quase simplista. O roteiro acerta ao não criar uma linha temporal exata e batida, na qual vemos o drama do médico pelos seus olhos. Ao invés disso, vemos o desenrolar da doença e do treinamento da nova médica da região pelos olhos dos pacientes. Quem manda na narrativa, na verdade, são os moradores da pequena cidade.
Cluzet também está impecável. Repetindo suas ótimas atuações em Intocáveis e Um Reencontro, o ator francês emociona como o médico com medo do que virá em seguida em sua vida, mas que precisa demonstrar segurança para as pessoas ao seu redor. É uma atuação contida, mas que nos causa um impacto certeiro.
Não menos brilhantes está Marianne Denicourt, a médica responsável por substituir Werner. Ela consegue passar, com o olhar, serenidade, responsabilidade e medo. Além disso, todos os atores coadjuvantes brilham e convencem como pacatos moradores da cidadezinha. Impossível não se emocionar com algumas histórias e sentir o peso da obrigação de Werner com estas pessoas, que tanto confiam nele.
O único erro do filme é o final. Corrido e desproporcional, parece outra história. Não tem conexão com o que foi visto até agora e parece desesperado para mostrar bons sentimentos. Poderia ter encerrado de outra forma, de acordo com o que a história tinha mostrado até então. Falhou, mas não acabou com o brilho. Delicado, o filme é uma daquelas obras que, mesmo tendo uma forte e triste história, faz com que saiamos da sala de cinema de alma lavada.
ÓTIMO
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