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Matheus Mans e Bárbara Zago

‘Mulher Maravilha’ dá novo fôlego para a DC nos cinemas


Após os fiascos Esquadrão Suicida e Batman vs. Superman, estava difícil de acreditar que a DC iria entregar alguma coisa boa com seu novo universo, iniciado com o filme O Homem de Aço, em 2013, e que deve ter o seu ápice no filme Liga da Justiça, em 2017. No entanto, no meio do caminho, as coisas parecem estar entrando nos eixos: Mulher-Maravilha, que chegou ao Brasil nesta quinta-feira, 1, possui qualidade acima da média dos últimos filme da DC e mostra que ainda há esperanças para a empresa no cinema.

No filme, encontramos uma história de origem: Diana (Gal Gadot) é uma princesa na ilha das Amazonas que começa a ser treinada logo cedo, despertando um desejo por batalhas e uma habilidade superior às demais. No auge de seu treinamento, porém, a imaculada moradia das amazonas é violada por aviões e navios da 1ª Guerra Mundial, que buscam o capitão Steve Trevor (Chris Pine). A partir daí, sua vida dá 180º: ela sai da ilha das Amazonas e vai para o mundo real, com o desejo de dar fim à guerra que, segundo ela, está sendo causada pelo deus grego Ares.

Logo no começo, quando Diana está em sua terra-natal, o filme encanta pela fotografia e pela locação, natural e paradisíaca. Como há tempos não se faz no cinema, é criada uma bela cultura de um povo, com detalhes bem pensados e um rígida regra de convivência que faz a sociedade em questão parecer ainda mais real. Além disso, a diretora Patty Jenkins, de Monster -- Desejo Assassino, faz bom proveito do lugar com belos planos e sequências, como a cena da Mulher-Maravilha pulando do penhasco e que coloca o espectador em evidência. É bem feito e faz valer o 3D, apesar do considerável escurecimento da tela, prejudicando um pouco algumas cenas.

Além disso, Gal Gadot parece estar mais à vontade no papel de Mulher Maravilha. Depois de roubar a cena em Batman vs Superman, a atriz mostra que foi uma escolha acertada para o papel da heroína -- tirando toda a dúvida de quem apenas a conhecida por seu papel em Velozes e Furiosos. Enquanto isso, Chris Pine, que está se habituando a fazer o papel de bom moço, repete papel de Horas Decisivas tem um desempenho razoável, conquistando o espectador com um charme contido. O resto do elenco passa batido, mesmo tendo nomes de peso como Robin Wright e David Thewlis (sim, o Lupin de Harry Potter).

O grande acerto, porém, não está na direção ou no elenco, apesar dos destaques positivos. O acerto está no modo como a história foi concebida. Com trama real e com forte apelo para os fãs de quadrinhos, Mulher-Maravilha convence e faz o espectador se sentir confortável com a personagem. Ao contrário de outras histórias de origem, como Capitão América: O Primeiro Vingador e Batman Begins, do próprio estúdio, a história não tem muita exposição e não se torna cansativa, apesar das mais de duas horas de projeção. Afinal, o público conhece Diana junto com a própria personagem. É a volta ao estilo clássico de contar a história de uma personagem, sem enrolação e direto ao ponto.

O roteiro também acerta ao não usar a fórmula Marvel -- ação, piada, ação. Há um cuidado para que uma história seja contada, sem que o entretenimento fique sobreposto ao restante. E as piadas, que permeiam parte da história, são postas de maneira correta, sem contaminar a narrativa. No entanto, se prepare: algumas pessoas na sala de cinema davam gargalhadas a cada pequena piada, mesmo que fosse sem graça ou insignificante. Sem dúvidas, o desejo de ser um filme da Marvel ainda está presente.

Não é apenas de acertos que vive o novo filme da DC. Ainda há erros em toda a projeção, alguns até de forma insistente. A diretora usa câmera lenta em TODAS as cenas de ação. Todas. Nenhuma escapa. Isso acaba deixando o filme repetitivo e o espectador se cansa do ritmo em determinados momentos. Falta fluidez, que não causa aquela sensação de “sem fôlego”. Os vilões também desanimam: Danny Huston, como Ludendorff, e Elena Anaya, como Doutora Maru, estão caricatos demais e não convencem ao longo da narrativa, que acaba sentindo falta de um vilão de peso.

O grande ponto negativo, porém, é um discurso de Diana no final na película. Durante toda a história, há um ângulo feminista em cima da heroína, pouco visto no cinema de quadrinhos e super-heróis. É original e corajoso, visto parte do público dos quadrinhos. No entanto, com uma única frase dita pela Mulher-Maravilha nos minutos finais, a ideia cai por água abaixo. Spoiler: Para quem já viu ou não liga para spoilers, Diana fala que tudo que fez foi por amor à Steve. Vai ao contrário do que Frozen e Malévola ensinaram no cinema recente, que faz a mulher fazer as coisas por si só. Fim do spoiler.

Ainda assim, é certo que o novo Mulher-Maravilha é o melhor filme da DC desde a franquia Nolan. Não há dúvidas. No entanto, ainda falta para este universo ganhar o corpo que o estúdio quer e deseja há tanto tempo -- e que começou de maneira apressada em Batman vs Superman. Agora, resta ver se a franquia continuará nos eixos com Liga da Justiça, que pode consolidar o universo cinematográfico da companhia ou enterrar todo o trabalho feito no filme da princesa Amazona.

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